Consultor palestrou na terça-feira em Porto Alegre
Guru do mundo corporativo, Max Gehringer avisa: conhecimento técnico já não basta para vencer. Criatividade, postura e capacidade de entender mudanças é que definem os currículos valorizados pelas empresas. Confira as receitas do consultor, que palestrou ontem em Porto Alegre.
Um conselho dado pela avó e, em um primeiro momento, mal interpretado, acabou se tornando umas da regras que Max Gehringer passou a adotar para crescer no mundo corporativo. Assim que pisou em casa, logo após seu primeiro dia de trabalho em uma fábrica, a avó lhe fez uma pergunta sem tirar os olhos da frigideira em que fritava um ovo.
– Bem gringa, me perguntou :‘eles gostaram de você’? Respondi que eles não precisavam gostar de mim, que eu tinha um trabalho a cumprir, isso sim – contou sobre a passagem em sua juventude.
Anos depois, em outra empresa, Gehringer disputava com dezenas de colegas uma bolsa de estudos. Eram apenas cinco, e ele não tinha muitos anos de firma, como se dizia na época. Foi contemplado.
– Perguntei por que eu havia recebido a bolsa. Meu gestor disse: alguém na diretoria gosta de você...
Mais alguns anos e um curso no Exterior – pelo qual as empresas pagam fortunas – foram necessários para apreender o que a avó tentou ensinar.
– No curso, tivemos de escolher a melhor apresentação entre aquelas feitas pelos colegas. A mais técnica, perfeita, ganhou. Depois, elegemos aquela que gostaríamos de ver de novo. Venceu a pior. Por quê? Porque havíamos gostado do apresentador, e era ele, a partir da nossa escolha, que ganharia o maior prêmio do dia – as pessoas precisam gostar de você, lembrou Gehringer, em sala de aula, com cheiro do ovo frito feito pela avó anos antes.
Fazer as pessoas gostarem de você não quer dizer ser cínico ou falso, explica o ex-executivo de empresas como Pepsi e Elma Chips, que trocou o mundo corporativo para escrever livros e fazer palestras como as que produziu ontem, em Porto Alegre, ao longo de duas horas, a convite do Sindilojas e da Câmara de Dirigentes Lojistas da Capital.
– Você vai ser mais lembrado por algo que fez, algo que disse. Pelo bom e pelo ruim. Os colegas não vão lembrar de você porque estiveram juntos no ano em que a empresa cresceu 28,4%. Isso são metas que você tinha de cumprir. Darão importância para a forma e a atenção com que você as tratava, por um grande conselho que deu.
Foi-se o tempo de uma só tacada
Isso não significa que conhecimentos técnicos não sejam importantes no mercado de trabalho. São valiosíssimos, e você deve buscá-los sempre. Mas pessoas são contratadas pela técnica e demitidas, esquecidas, odiadas ou promovidas também pelo comportamento. Você tem técnica? Gostam de você? Vai ser lembrado por coisas boas? Caso sim, ensina Gehringer, você deve prestar atenção a outros pré-requisitos básicos para uma carreira de sucesso. Ser criativo, não uma vez, mas todos os dias, é um deles.
– Foi-se o tempo em que uma pessoa se fazia em cima de uma grande ideia, uma tacada de gênio. As empresas hoje precisam de gente que dê ideias criativas e promova melhorias diariamente. Não esperam mais pela grande, mas única ideia que vá render R$ 1 milhão. Várias e pequenas sugestões que promovam ganhos de R$ 5 diariamente valem muito mais.
Consolidar uma carreira exige ainda não apenas acompanhar as mudanças, mas entendê-las. Depois que uma mudança ocorreu, é fácil perceber as razões. Mais perspicaz e fundamental é entender por que essa mudança está correndo.
– Se não estiver entendendo, você não vai conseguir decidir a coisa certa a se fazer em cada momento. Ou vai decidir errado – alerta Gehringer, logo partindo para um novo e generalizado problema que todos os profissionais garantem que tem, ou imaginam que tem: os outros.
São os outros que não nos entendem, são os outros que têm inveja, são os outros que erram. Os outros, brinca o palestrante, vão dominar o mundo e roubar o seu lugar porque estão em todas as empresas.
– O que você vive ouvindo ou dizendo? Os outros não reconhecem seu esforço, que os outros não valorizam o seu trabalho. Esses outros são uma praga – brinca o palestrante, arrancando risos de alguns e deixando outra parte constrangida, mas preparada para sair do teatro julgando menos o outro como seu principal inimigo no mercado de trabalho.
Passo-a-passo para crescer na carreira
Se é jovem e sem experiência
Faça um curso técnico. O que está faltando são técnicos. Há muito jovem com título universitário que não consegue emprego porque a oferta é maior do que a procura. Para técnicos, ocorre o contrário. Há empresas que estão abrindo escolas técnicas porque não conseguem encontrar esses profissionais. Tem 15 anos e acha que vai pular o curso técnico e ir direto para a faculdade pensando que está ganhando tempo. Não está. Vai perder tempo. Se você for fazer primeiro uma faculdade ou um mesmo um curso de tecnólogo de dois anos, terá dificuldade de entrar no mercado.
Vai para uma entrevista de emprego
Cada entrevistador é diferente do outro, embora todos façam as mesmas perguntas. Recomendo, e pouco candidato faz em razão do nervosismo, prestar atenção à mesa, à sala, à maneira como o entrevistador se veste. Veja se há algum objeto que aponte se ele é, por exemplo, conservador: uma foto de família mais antiga na parede, uma caneta Parker modelo 51. Nesse caso, dê respostas conservadoras. Do contrário, você vai se chocar com o estilo dele. Decifrá-lo em um ou dois minutos é possível, mas poucos fazem.
Está no primeiro dia de trabalho
Diga que está em um dos melhores lugares e que está agradecido. Ou pelo menos nunca entre sugerindo que algo poderia estar melhor. Os primeiros dias – esse período de experiência – servem para ganhar confiança dos demais. Ela não está ali para mostrar que tecnicamente é boa. Se não fosse, não teria conseguido o emprego. É o momento de ganhar confiança, depois terá a vida toda para mostrar que é boa no que faz.
Tem como meta ser promovido
Primeira regra para ser promovido em qualquer organização ou tipo de serviço é ter o apoio do chefe. Não brigue com ele. É o erro mais fundamental que qualquer pessoa pode cometer. E não brigar também é não falar mal diretamente dele no banheiro. O banheiro é amigo do chefe. Alguém pode estar lá, ouvir e contar para ele.
Pensa em mudar de empresa
Não mude antes de ter outro emprego arrumado. É muito mais complicado arranjar um emprego se você estiver desempregado, porque terá de responder à célebre pergunta: por que você saiu do seu último emprego. Vai ter de dar um monte de explicações. Para quem quiser sair do local onde está, primeiro é melhor procurar em sites, em anúncios, procurar outras pessoas e ir para a entrevista dizer que está tudo maravilhoso, mas que gostaria de ir para uma empresa ainda mais maravilhosa.
Tem mais de 50 ou 60 anos
Procure vagas em empregos adequados à idade e entre empresas que estão contratando pessoas mais maduras. Muitas pessoas com mais de 50, 60 anos parecem querer que todas as empresas tenham uma norma que as obrigue a contratar pessoas com essa idade. E isso não é uma norma que se impõe ao mercado. Mas existem empresas que contratam pessoas de qualquer idade, dão preferência a essas pessoas. Procure sites pesquisando (com palavras) emprego, maior idade, terceira idade. Descubra grupos e amigos que possam ajudar. E mantenha-se atualizado, sempre.
Quer se aposentar
É preciso descobrir o melhor momento para isso. Tem gente que deixa para passar o tempo e tem gente que se aposenta muito antes do que deveria. O momento mais decisivo da vida profissional é de dizer “vou parar”. Muitos tomam essa decisão sem pensar cedo demais ou foram empregados a vida inteira. Outro problema é o receio de perder o poder, os benefícios, a mordomia de ser chefe, em alguns casos, e de ter de passar a atender o próprio telefone, por exemplo, não ter mais uma secretária. Alguns deixam passar o tempo, até que a empresa dá a eles um relógio de presente em uma festa e diz que chegou o momento de parar.
Quer abrir o próprio negócio
A primeira coisa é fazer o curso de empreendedor do Sebrae. Além de pessoas que participam pela primeira vez, tem gente que já teve seu próprio negócio, quebrou e só daí foi fazer o curso antes de abrir o segundo. Ele pode trocar experiências. Ele vai te contar que tinha entusiasmo e vontade, que era um ótimo vendedor. Mas para ter um negócio é preciso ser um ótimo administrador, financeiro, um monte de coisas. Essa é a primeira coisa. A segunda é: se você é bom em uma coisa só, precisa de um sócio bom na outra. Já vi muita gente boa abrir uma empresa e quebrar porque não tinha ninguém que gostasse da parte chata, administrativa, financeira. Sem isso, nenhuma empresa funciona.
Fonte! Chasque publicado no Portal ZHDinheiro, no dia 24 de março de 2010 - www.clicrbs.com.br/zhdinheiro.
Retrato de Vinícius Roratto.
Ótimas dicas!
ResponderExcluirE linkei vc no meu blog!
Bjs!