quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Privatizar a Previdência é solução?

(Foto: Petr Kurgan /123rf)

O sistema previdenciário no Brasil está em sérios apuros, com déficits em forte crescimento e urgente necessidade de reforma. Muita gente argumenta que isso ocorre porque o sistema é estatal. Por que não “deixar o mercado resolver”?

A defesa da privatização no Brasil, em geral, baseia-se em argumentos de eficiência. A atuação do Estado é associada à geração de produtos de baixa qualidade e/ou elevado custo, desperdiçando recursos escassos da sociedade. 

Isso se aplica a setores como energia elétrica, petróleo e gás, bancos, infraestrutura, entre outros, nos quais há bens ou serviços sendo produzidos.

Mas esse raciocínio não se aplica ao caso da Previdência, basicamente um esquema de transferências que tira o dinheiro de quem está em idade ativa e repassa para quem está aposentado *. Não há um produto sendo gerado, justificando a privatização como uma forma de reduzir ineficiências.

Na verdade, em quase todos os cantos do mundo, sistemas de previdência têm participação forte do Estado – e faz sentido que seja assim.

Para entender por que, pense no que ocorreria se não houvesse previdência estatal. Nesse mundo, os indivíduos teriam que poupar enquanto estiverem em idade ativa, para garantir renda na aposentadoria. Assim, enquanto estivessem trabalhando, poderiam reservar algum dinheiro para colocar em aplicações financeiras de longo prazo, planos de previdência privada etc. Na aposentadoria, utilizariam esses recursos poupados mais os juros acumulados para se sustentarem.

Só que muitos de nós temos sérias dificuldades em poupar, da mesma forma que é difícil nos comprometer com uma dieta. E a poupança tem um agravante: como o benefício aparece em um futuro longínquo, as vantagens são muito pouco palpáveis hoje, em comparação ao custo de deixar de gastar um pouco mais.

Agora imagine pessoas que pouco pouparam ao longo da vida chegando à velhice sem renda para lhes garantir um sustento mínimo. Quantos aposentados teríamos nas ruas pedindo dinheiro, sem lugar para dormir? Não estaria a sociedade disposta a garantir-lhes um benefício mínimo para evitar essa situação? Provavelmente sim.

Pronto: já temos uma primeira motivação para a intervenção do estado, garantindo esses benefícios mínimos para pessoas que acumularam muito pouco (ou quase nada) ao longo da vida.
Mas não para por aí: a existência do benefício afetaria o comportamento de outras pessoas, que até poupariam por si próprias. Afinal, agora elas sabem que vão receber alguma coisa mesmo se não pouparem o suficiente – o que reduz seu incentivo a sacrificar consumo hoje para ter renda na velhice.

Os problemas mencionados implicam que teríamos muita gente recebendo benefícios na aposentadoria sem ter contribuído ao longo da vida; para financiar esse benefício são necessários recursos. Parece justo que quem os recebe também ajude a pagar parte deles. Isso pode ser feito por meio de uma contribuição previdenciária compulsória. Ou seja, todo mundo no mercado de trabalho formal tem que contribuir – quer queira ou não.

O único ente equipado a forçar os indivíduos a contribuírem é… o Estado.

* Isso se aplica à Previdência brasileira, que funciona no esquema de repartição. Ou seja, retiram-se recursos de quem está em idade ativa, e transferem-se aos aposentados. Não há poupança, apenas transferência de recursos. Entretanto, em sistema de capitalização – em que os recursos retirados da pessoa são investidos, sendo devolvidos a ela com juros na aposentadoria – há potenciais vantagens na administração privada desses fundos. No caso, essa administração é um serviço sendo provido, dando margem ao argumento de eficiência da privatização.

Fonte! Chasque (matéria) de Mauro Rodrigues, postado no sítio Porque? em 26 de janeiro de 2018. Abra as porteiras clicando em

................................

Observação

Falta ao país e aos países em desenvolvimento a cultura da poupança. Do economizar para não faltar. Da previdência privada, entre outros. Tudo que o brasileiro - a grande maioria precisa adquirir, é comprado de imediato, com parcelamentos e juros altos embutidos nas famigeradas 10 vezes sem acréscimo, o que é uma grande farsa.... Não existe a cultura do planejamento financeiro, do orçamento dentro dos lares dos brasileiros.

Previdência privatizada? Tenho conhecimento do sistema previdenciário privatizado no país vizinho, o Chile, sendo o primeiro país a fazê-la. E a conta vem, que que li e publiquei me chasque aqui no sítio. Basta abrir as porteiras clicando em: http://obolsodabombacha.blogspot.com.br/2017/07/como-e-se-aposentar-no-chile-o-1-pais.html

Valdemar Engroff - o gaúcho taura

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Com Selic baixa, investidor deixa cautela de lado e põe o pé no risco



A estudante de direito Larissa Galdi começou a investir em títulos públicos pelo Tesouro Direto no início de 2016. A taxa básica de juros (Selic), que baliza os retornos dos investimentos em renda fixa, ainda reinava em 14,25% ao ano. No segundo semestre do mesmo ano, porém, a Selic iniciou sua trajetória de queda, achatando a rentabilidade dessas aplicações.

Em 2017, os juros caíram a menos da metade de quando Larissa começou a investir no Tesouro. Como ela tinha um dinheiro parado e a conhecida renda fixa já não estava tão atraente, ela resolveu que era hora de colocar o pé no risco. "Comecei a estudar formas de fugir das taxas frustrantes, passei a repensar o dilema retorno versus risco e a conhecer expressões de renda variável que nunca havia utilizado", conta.

Foi em 2017 que ela e diversos brasileiros saíram da zona de conforto em busca de mais rentabilidade. Para além dos "queridinhos", como a poupança, o Tesouro Direto e os CDBs, o investidor passou a flertar com aplicações mais arrojadas, seja investindo diretamente em bolsa - que fechou o ano com alta de mais de 26%, acima dos 76 mil pontos - ou, sobretudo, via fundos de investimento - que atendem a diferentes perfis e são uma boa opção para um pontapé no risco.

Entre os fundos, os multimercados foram a grande febre em 2017. A captação somou R$ 91,7 bilhões - praticamente o total acumulado por toda a indústria de fundos em 2016. O grande chamariz é ter numa mesma aplicação ativos diversos e com exposição a riscos diferentes, como renda fixa, ações, câmbio e até commodities. "Os fundos multimercado foram a minha porta de entrada para a renda variável: a ideia do risco em prol de retorno começou a me parecer mais natural", conta Larissa.

Ela não parou por aí. Com as promoções das instituições financeiras durante a Black Friday, no final de novembro, ela e o namorado, Carlos Henrique Guimarães, resolveram turbinar ainda mais a carteira. "Ele tomou coragem e investiu em fundos de ações, o que me incentivou a seguir o mesmo rumo, ainda que com um valor mais baixo", diz. "A carteira final tem se revelado equilibrada, uma vez que o fundo multimercado segura razoavelmente a barra da volatilidade do fundo de ações, mas os dois ainda garantem ganhos que eu não teria em um fundo de renda fixa nas taxas atuais."

Já o engenheiro Pedro Campos optou em 2017 por entrar na bolsa - que foi a estrela do ano, mesmo com o "sobe e desce" provocado por eventos como a gravação de Joesley Batista, as denúncias contra Michel Temer e os impasses da reforma da Previdência. "Tenho medo do que pode acontecer no mercado com as eleições, mas, mesmo que ocorra uma queda em 2018, empresas boas tendem a se valorizar no longo prazo", acredita.

O ano que começou ontem oferece um dilema para o investidor resolver. Se, por um lado, a aposta é de que haja continuidade da retomada econômica, com crescimento do PIB, inflação controlada e juros baixos; por outro, o movimento político em torno das eleições e o perfil do próximo presidente podem jogar um balde de água fria nos mercados.

Se 2017 foi um ano de turbinar a carteira de investimentos e colocar o pé no risco, para especialistas, 2018 ainda oferece boas oportunidades para os aplicações mais arrojados - mas é preciso redobrar a cautela. "2018 vai ter muita turbulência para quem não gosta de fortes emoções", adverte Alan Ghani, professor da escola de negócios Saint Paul. Ele aponta os setores de varejo, minério de ferro e imobiliário como opções promissoras no mercado de ações.

"O resultado da eleição vai ser determinante. O investidor vai ter de ter coragem de tomar mais risco e deve estar muito atento no desdobramento eleitoral", aponta Alexandre Silverio, CEO da Az Quest. Para ele, se o eleito for comprometido com a política econômica atual, a bolsa pode ser o grande investimento do ano. Outro destaque entre os ativos de maior risco continua sendo, segundo ele, os fundos multimercado, pela versatilidade da aplicação.

Martin Iglesias, especialista em investimento do Itaú, acredita que 2018 ainda será um ano de mais risco na carteira, mesmo com as incertezas. A dica é não olhar para retorno passado. "É preciso analisar o risco versus retorno e ver se o produto é consistente. Às vezes, tem produto que vai muito bem no curto prazo, nos últimos anos, mas no longo prazo é uma opção ruim", alerta.

Juro real segurou ganho da renda fixa, mas cenário não deve se repetir em 2018

 O tombo da Selic de 14,25% para 7% ao ano do segundo semestre de 2016 para cá desafiou o investidor brasileiro, apegado à renda fixa e acostumado à rentabilidade de 1% ao mês sem ter de correr qualquer risco, como em bolsa. No entanto, apesar do recuo das taxas desses investimentos, a forte desaceleração da inflação no ano passado garantiu ganho real mesmo nas aplicações mais conservadoras. Para 2018, porém, esse cenário não deve se repetir.

Quando a Selic atingiu a então mínima de 7,25% ao ano, em 2012, eram necessários 96 anos para que o investidor dobrasse o poder de compra dos recursos investidos em uma aplicação de renda fixa. Já em 2017, apesar de o juro estar ainda mais baixo, em 7% ao ano, são necessários 22 anos para se dobrar o patrimônio - menos de um quarto do período.

O tempo é menor até na comparação com o final de 2015, quando a Selic estava em 14,25% ao ano. A rentabilidade, apesar de alta, foi corroída por uma inflação também de dois dígitos, sendo necessários 53 anos para se dobrar o patrimônio. Os cálculos são da professora do Ibre/FGV e planejadora financeira Myrian Lund. Foi considerado Imposto de Renda (IR) de 15% e uma inflação de 2,78% para 2017. "Apesar da queda de juros, quem aplicou em renda fixa em 2017 se deu bem, pois a taxa real foi alta", explica Myrian. Se confirmada a projeção do boletim Focus, do Banco Central, de inflação de 2,78% em 2017, o ganho real líquido (descontada a inflação e o IR) do ano passado será, mesmo com o tombo da Selic, superior ao observado em 2016 - 5,52% ante 5,28%, respectivamente.

Esse cenário, porém, não deve se repetir em 2018. Segundo o último boletim Focus, o mercado espera inflação de 3,98% para este ano. Com isso, segundo os cálculos da professora da FGV, o ganho real líquido das aplicações será de apenas 1,62%. "A taxa de juros real vai ser muito mais baixa em 2018, o que deve impulsionar ainda mais os investidores para ativos de maior risco", diz.

Diante desse cenário, a composição da carteira dependerá não só do perfil do investidor, mas de suas metas. "Se o objetivo é fazer pé de meia ou estabelecer previdência, recomendo NTN-B Principal 2035 ou 2027 (título público atrelado à inflação). Outra aposta interessante são os CDBs de bancos pequenos, já que há alguns pagando acima de 120% da taxa DI", afirma Betty Grobman, professora de finanças e sócia da BSG DuoPrata.

Ela lembra também que, em 2018, serão lançados na B3 os ETFs (fundos que replicam índices) de renda fixa. "Nesses fundos, o investidor terá acesso a todos os títulos públicos federais, e não só àqueles disponíveis no Tesouro Direto, através das 'cestas'", diz. Já para quem procura mais risco dentro da renda fixa, ela aconselha que o investidor fique de olho nas debêntures - títulos de dívida emitidos por empresas - e em fundos imobiliários: "Há opções interessantes", finaliza. 

Fonte! Buscamos este chasque (matéria) na edição impressa do Jornal do Comércio de Porto Alegre / RS, em 02 de janeiro de 2018.