Estudante que postou tuítes racistas foi condenada a prestar serviços comunitários, além de pagar multa
Antes, quem queria reclamar do trabalho ou de quaisquer fatos do cotidiano
teria de se encontrar com amigos para chorar as mágoas ou usar um diário
pessoal para desabafar. Agora, muita gente acaba usando as redes sociais para
compartilhar essas angústias com os conhecidos e o Twitter se tornou, para
muitos, um diário de 140 caracteres.
O problema é que o que ficava restrito a uma mesa de bar ou a páginas de um
caderno privado hoje é público. Aquilo que você coloca no Twitter pode ser
compartilhado e encontrado por qualquer um com apenas um clique. E pode custar
sua reputação e seu emprego.
Mayara Petruso
No caso da estudante de Direito Mayara Petruso, os comentários feitos por ela
em 2010, depois da vitória de Dilma Rousseff custaram caro. Mayara foi
condenada, a um ano e cinco meses de prisão por crime de racismo depois de
postar críticas a nordestinos (a quem ela atribuía a eleição da presidente
Dilma).
A pena da jovem foi convertida em prestação de serviços comunitários e multa de
500 reais justamente por conta da repercussão do caso. Além de ter sido
demitida de seu estágio, Mayara abandonou a faculdade e ficou reclusa em sua
casa por seis meses.
Anthony Weiner
O caso ficou tão famoso nos Estados Unidos que passou a ser chamado de “Weinergate”.
O deputado Anthony Weiner tinha o hábito de manter conversar eróticas com
jovens via mensagem direta (aquela que não é pública) do Twitter. Tudo bastante
discreto até que ele se confundiu com os botões do celular e aquilo que era
para ser privado – no caso, uma foto dele de cueca – acabou virando público.
O vazamento acidental da primeira foto levou outras a aparecerem pelas redes
sociais e o deputado reconheceu que havia mandado a mensagem e que mantinha
“conversas inapropriadas” com seis mulheres. Em 2011, o escândalo era tamanho
que Weiner se afastou do Congresso.
Alex Glikas
No Brasil, um dos casos mais notórios foi o do diretor comercial da Locaweb,
Alex Glikas. Poucas pessoas sabiam de detalhes da vida pessoal do executivo até
que ele, durante uma partida de futebol entre São Paulo e Corinthians em 2010,
resolveu escancarar no Twitter seu coração corintiano.
Enquanto o clássico acontecia, Glikas tuitou uma série de insultos, inclusive
homofóbicos, aos torcedores do São Paulo. Para agravar a situação, a Locaweb
havia fechado um acordo de patrocínio com o time tricolor e Glikas chegou até a
mencionar a empresa em um de seus tweets: “Vamo (sic) Locaweb! Timão eooo!”.
A atitude do diretor causou ira entre fãs do São Paulo, que iniciaram uma campanha
nas redes sociais pela sua demissão. Poucos dias depois, a Locaweb anunciou o
desligamento de Glikas, que apagou os polêmicos tweets e deixou apenas um
recado arrependido: “Minhas sinceras desculpas à torcida e ao time do SPFC. No
calor do clássico, o torcedor tomou conta do profissional. Não acontecerá de
novo."
Octavia Nasr
Credibilidade é algo importante em qualquer profissão. Na do jornalista,
então, é absolutamente essencial. Octavia Nasr era editora na CNN quando tuitou
lamentando a morte de um terrorista do Hezbollah.
“Estou triste de ouvir sobre a morte de Sayyed Mohammed Hussein Fadlallah. Um
dos gigantes do Hezbollah e que eu respeito muito”, postou. A resposta entre os
seguidores foi indignada e imediata.
Não adiantou o pedido de desculpas da editora, nem a explicação de que ela não
defendia atos terroristas. Em julho de 2010, Octavia foi demitida de seu alto
cargo por, segundo justificativa da CNN, colocar em dúvida sua credibilidade.
Twitter oficial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República
Quem trabalha com mídias sociais precisa tomar cuidado extra com o que
publica – especialmente com o que publica no Twitter oficial do seu trabalho.
No começo de 2012, o funcionário responsável pela conta da Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República (@imprensaPR) confundiu sua conta pessoal
com a da Secretaria e acabou retuitando um site de humor.
“Com a volta de Luiza, quem tá indo pro Canadá é o Serra...”, dizia o tweet. A
mensagem fazia referência a uma propaganda que ficou famosa na época e brincava
com a figura do ex-adversário da presidente Dilma Rousseff, o tucano José
Serra.
O autor do post foi demitido, o tweet deletado e o perfil oficial ainda
comunicou: “Pedimos desculpas a todos pela publicação não autorizada, hoje,
neste perfil, do retuíte indevido de um site humorístico”.
Connor Riley
O caso da americana de 22 anos ficou tão famoso que se tornou sensação na
internet em 2009. Connor havia recebido uma proposta de emprego da Cisco,
empresa de tecnologia, e não se conteve ao tuitar: “Cisco acabou de me oferecer
um emprego! Agora eu tenho de pesar a utilidade de um cheque gordinho contra a
viagem diária até São José e odiar o trabalho”.
Um funcionário da Cisco viu o tweet, que era público, e respondeu para a
Connor: “quem foi o gerente de contratação? Eu tenho certeza que ele adoraria
saber que você vai odiar o trabalho. Nós aqui na Cisco sabemos mexer bem na
internet”.
Depois da resposta, a jovem perdeu a oferta de emprego e a expressão “Cisco
Fatty”, ou “Cisco gordinha”, virou febre na rede.
Thiago Vieira
O fotógrafo Thiago Vieira trabalhava no jornal Agora São Paulo quando o
clube Palmeiras estava decidindo quem seria seu novo presidente, em janeiro de
2011. Enquanto esperava para tirar fotos do escolhido Arnaldo Tirone, ele usou
sua conta pessoal no Twitter para publicar um recado chamando os palmeirenses
de “porcos”.
O tweet foi visto por conselheiros do clube paulistano, que entraram na sala de
imprensa e retiraram o fotógrafo. Em seu Twitter oficial, o Palmeiras postou que “após
ofender a torcida, o fotógrafo Thiago Vieira não trabalhará mais no Palmeiras.
O jornal para o qual ele trabalha já foi comunicado”. O Agora reprovou a
agressão sofrida por Vieira na sala de imprensa, mas também informou que o
fotógrafo não prestaria mais serviços para o jornal.
Gilbert Gottfried
O comediante americano é um bom exemplo de humorista que passou dos limites
nas redes sociais. No Brasil, casos como o de Danilo Gentilli, que causou
polêmica ao tuitar piadas consideradas racistas, ficaram famosos, mas não
chegaram a custar o emprego do comediante. Gottfried não teve tanta sorte.
Pouco depois do terremoto e tsunami que destruíram o Japão em 2011, o americano
postou piadas na sua conta pessoal: “O Japão é realmente avançado. Eles não vão
à praia. A praia vem a eles”, tuitou. A companhia de seguros Aflac, cujo
símbolo é um pato dublado por Gottfried, não achou graça nos comentários e
decidiu dispensar o comediante.
Alec Duarte e Carolina Rocha
No jornalismo a “cultura do furo” é extremamente importante. Os veículos
competem entre si para ver quem lança a notícia primeiro. Não é incomum, por
exemplo, que existam obituários prontos de pessoas importantes, com imagens e
textos já separados para serem publicados o mais rápido possível.
Quando, em março de 2011, o ex-vice-presidente José Alencar morreu, o então
editor-assistente de política da Folha, Alec Duarte, fez referência a essa
prática jornalística. Sem citar nenhuma pessoa ou veículo específico, ele
escreveu: “nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar o botão”. A
repórter do Agora SP, Carolina Rocha, respondeu dizendo que a notícia da morte
de Alencar ainda não estava no site da Folha.com.
Por causa da troca de tweets, os dois jornalistas, que trabalhavam para o mesmo
grupo, foram demitidos.
Vanderlei Luxemburgo
Quando era técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo
estava tendo problemas com o atacante Keirrison. Para desabafar, ele escolheu
postar no Twitter críticas ao jogador e ainda terminou dizendo que, mesmo se
Keirrison não fosse negociado (na época o atacante estava prestes a ser vendido
para o Barcelona), “comigo ele não joga mais”, tuitou.
Apenas duas horas depois, o técnico tuitou novamente, dessa vez dizendo que
havia sido demitido do Palmeiras por “discordar das atitudes de Keirrison”.