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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a média de vida dos brasileiros aumentou alguns meses, para mais de 74 anos, como antes projetado. No entanto, a questão que se coloca é se apenas devemos viver mais, envelhecendo com muitos problemas daí decorrentes, para a pessoa e a família, ou se, ao contrário, é melhor viver menos, mas com qualidade. Porém, a qualidade de vida é algo subjetivo. Não se pode proibir idosos, por exemplo, que passaram toda uma vida tomando um cálice de vinho e que, aos 90 anos, por pressão de um familiar, são levados ao médico com o pedido impositivo: “doutor, proíba ele, ou ela, de beber o vinho”. Médicos no Hospital de Clínicas alertam que, a rigor, isso é um erro. Mais vale a felicidade pessoal - que é subjetiva e varia de idoso a idoso - como o cálice de vinho às refeições, do que mandar “caminhar, ter regime alimentar, frequentar este ou aquele local” se a pessoa não se sente confortável ou feliz, afirmaram. Não raro, a imposição na visita ao médico para proibir demonstra uma incompreensão da família e da sociedade. As doenças são as mesmas, mas os doentes, não.
A população no Brasil e no mundo está envelhecendo. Isso é bom, mas precisa de uma nova postura em relação aos idosos. Para alguns, velhos têm juventude acumulada. Ora, ser velho é humilhante? Há até mesmo a gerontofobia, o medo do envelhecimento. A mídia tem responsabilidade nisso, pois, nos padrões de beleza, raramente apresenta idosos. O modelo de beleza e sucesso está aliado com pele jovem e quase sempre branca. Mas a velhice não é uma doença, embora muitas estatísticas pareçam dizer o contrário. Temos exacerbação da juventude, e a juventude deve ter o seu lugar, mas isso não é uma competição, ou uma corrida entre gerações, e sim uma cooperação intergeracional.
Cada fase da vida tem o seu padrão de saúde e doença. Todos os seres humanos têm uma cadeia de estágios que são interligados. Porém, cada um de nós é um ser único, um processo de crescimento e biológico, maturidade psíquica, mental e social etc. Somos uma unimultiplicidade, pois não existe um padrão único de envelhecimento. Segundo antropólogos, quando olhamos para o nosso passado distante, descobrimos que esse processo é relativamente recente. O envelhecimento continua sendo o que um pesquisador chamou de uma verdadeira caixa-preta. É, sim, um fato, vivemos mais, ficamos mais velhos, e é certamente uma conquista da espécie, mas também um desafio, um desafio para o Brasil. Não podemos é perder a cultura de respeito ao velho que existe em países da África e Ásia, onde a experiência, a sabedoria e o conhecimento acumulados são exaltados. Em Porto Alegre, empresas supermercadistas estão contratando pessoas com 60 anos ou mais, bom exemplo. Na tão visitada Miami, é comum se ver atuando em caixas de lojas e supermercados pessoas na terceira idade. A questão ética que se impõe é saber se devemos apenas viver tantos anos quanto possível, independentemente das condições ao ficar mais velho, ou se viver um número razoável de anos - quantos? -, com uma boa qualidade de vida. A verdade é que ninguém quer morrer, mas ninguém quer envelhecer! Como equacionar e encontrar o xis da questão?
Fonte! Este é o editorial do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), edição do dia 09 de dezembro de 2013. No retrato, meus velhos pais, idosos e aposentados do salário mínimo oficial.
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