Atualmente, estoque supera R$ 116 bilhões em valor de mercado e reflete a popularização da modalidade entre os brasileiros
valor líquido supere aplicações em títulos públicos |
Uma das alternativas
de renda fixa para os tradicionais investimentos em CDB e poupança tem
caído no gosto dos investidores. Os reflexos da popularização das
chamadas letras de crédito podem ser medidos pelo avanço dos estoques
registrados na Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip). Em setembro, a
soma atingiu valores de mercado superiores a R$ 116 bilhões - um
crescimento acima de 50% nos últimos 12 meses.
As
Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio
(LCA) são títulos emitidos por instituições financeiras, lastreados em
financiamentos imobiliários e do agronegócio. A fórmula é simples: o
investidor empresta o dinheiro ao banco em troca de uma remuneração que
pode ser pré ou pós-fixada (geralmente fixada em um percentual do CDI
mais uma taxa prêmio atrelada à inflação ou juros).
Na
outra ponta da operação, os bancos se apropriam dos recursos como forma
de captação de aportes para linhas de crédito imobiliário ou rural. O
principal diferencial desses papéis é a isenção do Imposto de Renda (IR)
sobre os ganhos obtidos com a aplicação, o que costuma garantir
rentabilidades superiores a qualquer outro produto de renda fixa
disponível.
Uma LCI bastante comum no mercado, que
pague 90% do CDI, com vencimento em 90 dias, terá uma taxa equivalente a
um CDB de 115,86% do CDI, por exemplo. Ou seja, o aplicador somente
terá rentabilidade igual se adquirir um produto que entregue os mesmos
115,86%.
Conforme explica o gerente executivo de
desenvolvimento e novos negócios da Cetip, Fábio Zenaro, a isenção de IR
permite que, no agregado, o valor líquido supere inclusive as
aplicações em títulos públicos (LFTs e LTNs indexadas à Selic e com
cobrança de IR na fonte). “Os volumes crescem consideravelmente. O
início desse movimento se deu com a baixa dos juros, pois, nesse
cenário, qualquer ganho econômico sobre os rendimentos se torna um
diferencial”, sintetiza.
No entanto, mesmo com a
reversão da curva da Selic e a perspectiva de juros futuros cravados
acima de R$ 10,25% ao ano pelo mercado, os papéis não perdem fôlego ao
longo de 2013. Segundo dados da Cetip, o valor de mercado associado às
LCIs saltou de R$ 62,3 bilhões em dezembro de 2012 para R$ 90,3 bilhões
em outubro deste ano. No período, os estoques de LCAs também avançaram
de R$ 22,2 bilhões no encerramento de 2012 para R$ 26,1 bilhões.
Na
soma, os R$ 116,5 bilhões registrados na principal câmara de liquidação
do País refletem o sucesso dos dois produtos. Para Zenaro, a explicação
está na relação risco retorno. Isso porque o único temor associado à
modalidade é uma eventual liquidação do banco emissor.
Nesse
caso, contra uma improvável falência da instituição financeira, os
títulos ainda contam com uma cobertura do Fundo Garantidor de Crédito
(FGC) de até R$ 250 mil aplicados por um único investidor. “É um reforço
importante e que permite aos bancos menores concorrer de maneira mais
justa com os maiores. Só existe investimento em maior risco se houver um
prêmio melhor e taxas mais competitivas”, avalia.
Por
isso, o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo
Corvello, alerta que alguns bancos maiores extraem uma parcela das
isenções tributárias, indexando os papéis na faixa entre 85% e 90% do
CDI. “Se comparar com um CDB, ainda é melhor, mas o grande banco está
ficando com um quarto ou a metade de um ganho que seria exclusivo do
investidor. Quando se opta pelos bancos médios, é possível obter
aplicações com 100% de CDI livre de imposto. Aí, sim, conseguem-se
rentabilidades mais interessantes”, comenta.
Inexistência de mercado secundário trava disseminação entre investidores pessoa física
Assim
como todos os produtos de renda fixa, com exceção dos títulos emitidos
pelo Tesouro Nacional, a inexistência de um mercado secundário emperra a
pulverização das Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio entre
as pessoas físicas. Isso porque o fato torna quase impossível a saída
dos investidores antes do encerramento do prazo estipulado pela
operação, que pode se arrastar por até três anos em alguns casos.
“O
cliente não consegue se desfazer da posição. Em uma eventual urgência,
teria que vender para outro investidor. O problema é achar alguém que
queira comprar naquelas exatas condições acordadas no momento da
emissão”, afirma o diretor de investimentos da TOV, Pedro Paulo Afonso.
A
falta de liquidez diária nos papéis também dificulta o lançamento por
parte dos bancos de menor porte. Segundo o analista, o mercado não pode
ser considerado popular, e sim um atrativo para os grandes gestores de
fortunas. “É pouco desenvolvido, e a quantidade de ativos disponíveis é
escassa. Embora exista um trabalho nos bancos médios, é complicado
ampliar a emissão desse tipo de produto. O estoque aumenta, mas não o
acesso pulverizado nos pequenos investidores”, complementa.
De
acordo com Afonso, a resolução do problema exige uma regulamentação que
permita a formação das chamadas operações compromissadas, neste caso,
entre os bancos e os clientes secundários. O modelo seria semelhante aos
ripples, ou ondulações, bastante comuns em qualquer tipo de ativo de
renda fixa operado no mercado norte-americano. “É nítida a inexistência
disso nos produtos brasileiros. Seria essencial para fomentar a criação
de uma demanda por negociações diárias em LCI e LCA”, defende.
Apesar
do entrave, o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo
Corvello, afirma que a modalidade de investimento segue em alta. Como é
possível definir a taxa de retorno, é comum encontrar operações
híbridas, com uma parcela atrelada à inflação (IPCA, pós-fixado) e outra
pré-fixada ao CDI no vencimento. “Hoje, isso se torna interessante,
pois tanto a inflação quanto os juros subiram e continuam cotados para
cima no mercado futuro”, comenta. Corvello ainda lembra que há um ano, a
aplicação costumava ser vinculada à inflação e mais 2,5% de cupom em
média. Atualmente, é possível obter rentabilidade composta por IPCA e
mais 5,5% ou 6% de prêmio. “Falar em ganho real acima de 5% é um
referencial importante para entender o potencial do apelo desse tipo de
ativo”, afirma.
Fonte! Chasque (reportagem) publicada no dia 11 de novembro de 2013, nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre, por Rafael Vigna
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