Segundo pesquisa sobre envelhecimento, realizada nos Estados Unidos, em 2009, cerca de 51% dos pais norte-americanos, com 65 anos ou mais, tinham dado dinheiro aos filhos, nos últimos 12 meses. Já o contrário, isto é, filhos que deram algum dinheiro aos pais, no mesmo período, eram apenas 14%. De modo geral, os pais cooperam mais com os filhos do que estes com seus pais, não só financeiramente, mas, também, cuidando dos netos e fazendo alguma tarefa doméstica, como pagar uma simples conta ou cortar a grama do jardim.
Assim como ocorre, inacreditavelmente, nos Estados Unidos, também, no Brasil, nem sempre são as pessoas idosas que precisam de mais ajuda financeira. Pelo contrário, muitas vezes são essas pessoas que sustentam uma família. É muito comum, principalmente na região nordeste do Brasil e entre as famílias das classes C e D – renda até R$ 4.807,00 –, a aposentadoria ou a pensão ser a principal fonte de renda. Uma operadora de planos de previdência privada diz que uma pesquisa própria apurou que a maioria dos idosos brasileiros não se preparou para a velhice, alegando, como principal motivo, a situação financeira complicada, que não permitia o planejamento. Mais de 80% preocuparam-se apenas em garantir o benefício do INSS. Apenas 19% tinham algum plano de previdência privada.
Na história da humanidade, talvez nunca se configurasse a situação peculiar em que muitas pessoas, de 40 a 60 anos, hoje, se encontram, “emprensadas”, financeiramente. De um lado, ainda são responsáveis, financeiramente, por seus filhos, que ainda não conseguiram decolar profissionalmente, embora até tenham, eventualmente, graduação superior, especialização ou mestrado. De outro, os pais, em crescente expectativa de vida, o que os torna vulneráveis, financeiramente, porque, muitas vezes, não tiveram a necessária precaução, oportunidade ou orientação para formar um patrimônio ou pagar um plano de previdência privada que lhes rendesse uma receita extra, dependendo exclusivamente da aposentadoria do INSS. É uma situação que requer cuidado e atenção porque, além dos custos com pais idosos e filhos dependentes, financeiramente, há a necessidade de planejar e acumular investimentos para a própria aposentadoria. Como diz Eliana Bussinger, escritora e palestrante, “é uma situação capciosa que envolve a administração do futuro de, ao menos, duas gerações – a própria e a dos filhos – e a administração do dia-a-dia de três gerações – filhos, pais e a própria”.
Muitos pais, na tentativa de ajudar ou até salvar a situação financeira dos filhos, acabam comprometendo ou até destruindo suas próprias finanças. Além do mais, não é raro que algum filho sinta-se prejudicado porque um irmão ou irmã recebeu alguma ajuda financeira dos pais, mesmo sob a forma de empréstimo, provocando constrangimentos ou discórdias entre familiares. Curiosamente, de acordo com outra pesquisa americana, os pais-homens são mais propensos a abrir suas carteiras para ajudar seus filhos, desde que, evidentemente, não mencionem que é para pagar cartões de crédito e, muito menos ainda, dívidas de jogo. Em tom jocoso, um especialista recomenda que, se precisar ligar para casa e pedir um empréstimo, reze antes para que seu pai atenda o telefonema. A explicação seria que, no caso de o pai ser o chefe da família, ele se identifica com o fardo que é carregar uma dívida. Além disso, ele também pode lembrar-se de seu comportamento, quando era jovem, especialmente se seus pais também pagaram contas suas.
Longe de seguir conselhos básicos de consultores financeiros – pagar-se primeiro para acumular um patrimônio e viver dentro de suas possibilidades –, alguns pais gastam fortunas com os filhos – em educação, por exemplo – e não poupam o suficiente para suas próprias aposentadorias. Às vezes, ainda “financiam” empreendimentos mirabolantes ou arriscados dos filhos que, muitas vezes, acabam em nada, levando embora suas economias. Outras, na falta de condições financeiras dos filhos e para manter as aparências, assumem despesas dos netos, como as mensalidades de escolas particulares, roupas de grifes, etc. Para quem tem muito dinheiro, isso é apenas uma opção que pode, infelizmente, criar pessoas despreparadas para as dificuldades da vida. Já quem não está tão folgado, financeiramente, precisa rever seus conceitos. É igual a recomendação das aeromoças de, em caso de despressurização da cabine do avião, colocar a máscara de oxigênio primeiro em si para depois tentar ajudar a criança que está consigo.
Em algum momento, pode chegar a hora de precisarmos retribuir aos pais o quanto eles cuidaram de nós, ensinaram aquilo que sabiam – mesmo que seja como não fazer! – e, em muitos casos, deram uma ajuda financeira para começar a vida adulta, contribuindo para montar a própria casa ou começar um negócio próprio. De acordo com o educador financeiro Álvaro Modernell, “a gratidão e a responsabilidade familiar são sentimentos importantes que devem existir”. Um primeiro passo seria ajudar na organização financeira dos pais. Um segundo, contratar um plano de saúde que, embora seja mais caro, devido à idade avançada dos beneficiários, reduz a necessidade de maiores desembolsos, em caso de doenças mais graves. E todos os filhos devem participar do rateio dessas despesas.
Fonte! Chasque de Francisco Teleoken, publicado na edição dos dias 24 e 25 de julho, no sítio do jornal Gazeta do Sul , de Santa Cruz do Sul (RS) - http://www.gazetadosul.com.br/, na seção Tempo & Dinheiro.
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