Taxas cobradas por planos de previdência privada, a longo prazo, corroem a rentabilidade da aplicação destinada à aposentadoria
Roberta Scrivano, de O Estado de S. Paulo
São Paulo! Planos de previdência privada têm tido crescimento exponencial no Brasil nos últimos anos. Mas, segundo especialistas em finanças pessoais, não são a única maneira de planejar a aposentadoria. Há alternativas que permitem ao investidor gerir o próprio dinheiro. Alguns cálculos revelam que essas formas podem até resultar em rendimentos mais significativos que os oferecidos na previdência privada.
A liberdade para a movimentação do dinheiro, o que possibilita ao investidor aproveitar as bonanças do mercado no decorrer do tempo, é o grande diferencial entre a elaboração de uma carteira para a aposentadoria e a tradicional previdência. Além disso, com a alternativa para o planejamento, o cliente está livre de taxas de administração, de carregamento e de saída cobradas pelos bancos na previdência.
"São inúmeras as taxas de um plano de previdência. Esses custos, no longo prazo, diminuem significativamente os rendimentos", explica Otto Nogami, professor de finanças do Insper (ex-Ibmec São Paulo).
Carteiras que mesclam renda fixa com variável são a alternativa mais recomendada por especialistas em finanças pessoais. Rodrigo Menon, da Beta Advisor, salienta que "a regra é diversificar". A carteira recomendada por ele para um investidor que tem, no mínimo, prazo de 15 anos para se aposentar é: 25% em ações; 20% em títulos atrelados à inflação; 20% em títulos prefixados e 25% em DI (que segue as taxas de juros pós-fixadas).
Os mais velhos, que estão mais perto da aposentadoria, devem manter 15% em ações e adicionar 10% em DI, segundo a recomendação do especialista. "Essas são recomendações a investidores padrão, ou seja, com perfil moderado", observa Menon.
Risco. Décio Pecequilo, operador sênior da TOV Corretora, é mais arrojado e diz que jovens podem ter 80% ou até 100% em ações. "Eu, por exemplo, acumulei patrimônio somente com investimentos nesses papéis", diz.
Para o professor do Insper, porém, independentemente da idade, quem planeja a aposentadoria deve manter 50% dos investimentos em títulos públicos ou CDB. Nas contas dele, 30% devem ficar em bolsa e os 20% restantes, na poupança ou em fundos DI. A ideia, diz ele, é que o investidor desloque os recursos caso haja uma boa oportunidade no mercado.
"Mas, atenção, em todos os quesitos, sobretudo na bolsa, o investidor precisa conhecer bem o produto", diz.
Disciplina. Os especialistas frisam que planejar a aposentadoria fora da tradicional previdência é apenas para aqueles que têm disciplina para controlar o orçamento. "Caso contrário, é melhor manter o dinheiro no piloto automático da previdência", afirma Menon. "Investimentos em ações precisam de acompanhamento e atenção", completa Pecequilo.
Comprar imóveis para depois locar também está na lista de alternativas à previdência. "Aluguéis servem como complemento de renda na aposentadoria", diz Menon. Os mais indicados são os imóveis comerciais, que têm maior potencial de retorno.
Nogami, do Insper, não recomenda essas aplicações. "Não há liquidez para isso", diz. Ele também observa que o investidor que escolher o caminho próprio não terá os benefícios fiscais concedidos nos planos de previdência.
‘Meu futuro será bancado com aluguéis de casas que eu mesmo vou construir’
Arquiteto quer aproveitar a experiência no setor
Márcio Barth tem 33 anos, é arquiteto e dono do escritório Base 2 Arquitetura. Como profissional autônomo, não recolhe INSS, mas planeja de maneira independente a aposentadoria. "Meu futuro será bancado com aluguéis de casas que eu mesmo irei construir", diz.
Hoje, o jovem tem uma poupança que usará para adquirir o primeiro terreno "assim que a melhor oportunidade for escolhida". "Pretendo sempre construir duas casas. Uma delas eu vou vender e a outra, manterei alugada." Com a venda, Barth pretende se capitalizar para comprar um novo terreno. Com o aluguel, o arquiteto planeja bancar a construção das próximas duas casas. "E assim sucessivamente", comenta.
A intenção de Barth é manter um bom número de locatários ativos. "Isso será daqui alguns anos", diz. Quando a engrenagem estiver girando sozinha, ele pretende utilizar os aluguéis como aposentadoria.
Fonte! Chasque publicado no sítio do O Estado de São Paulom na seção Economia & Negócios - http://economia.estadao.com.br/, no dia 25 de abril de 2010.
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