Quem aproveitou aproveitou. Quem esperou muito ou teve problemas em compatibilizar férias com passeios pelo Brasil e exterior, agora amarga o dólar a R$ 2,30, menos voos e crise na aviação civil atingindo as duas maiores empresas do setor pelo custo do combustível e pelo valor do dólar. Contribuindo para a nebulosidade que impede mais decolagens e aterrissagens, a economia brasileira vê ser projetado para baixo o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Então, se a economia não decola, as pessoas também não. O ritmo lento da atividade econômica é apontado por analistas como o grande fator para a queda no número de passageiros nos aeroportos no primeiro semestre. O desempenho cambaleante da economia levou as pessoas a voar menos, tanto a turismo como a negócios. O nível recorde de endividamento das famílias também comprometeu a renda destinada a produtos e serviços que não são considerados essenciais.
As pessoas estão em dúvida entre realizar uma visita utilizando o avião como meio de transporte ou comprar um novo eletrodoméstico. Não há mais renda para que as duas possibilidades sejam feitas enquanto não voltar o equilíbrio financeiro pessoal e a economia nacional retomar um crescimento não apenas maior como constante. A classe média emergente aproveitou a bonança e voou pela primeira vez. Entretanto, sentiu o baque do aumento dos reajustes dos preços das passagens.
No ano passado, o PIB expandiu quase 1%, e as companhias aéreas tiveram crescimento de 6%. Com o desempenho atual da economia, é de se esperar que o transporte aéreo não cresça quase nada. As empresas aéreas estão trabalhando para enxugar ao máximo - incluindo-se aí demissões - os custos e equalizar os choques. A margem de lucro ficou estreita depois da redução agressiva das passagens para atrair a classe média. Agora, as empresas não conseguem subir o preço das passagens da forma como gostariam. Para não perder mais clientes, tentam reduzir os custos operacionais, com uma adaptação exigida pelo momento, que ainda não impactou planos de longo prazo, como compra de novas aeronaves.
De Porto Alegre a Brasília, via ônibus, são 36 horas, em média. De avião, sem escalas, apenas 2h30min, uma diferença espetacular, além do conforto e de um quase não cansaço. Porém, uma ida e volta de Porto Alegre a Brasília de ônibus dá uma economia de algo como R$ 1.100,00, que pesa, positivamente, no bolso da nova classe média. Pela primeira vez nos últimos 10 anos, os embarques e desembarques em voos domésticos caíram no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. De 2003 a 2012, a média de crescimento desses passageiros nos aeroportos brasileiros era de 12,6%. Neste ano, houve não só interrupção dessa expansão, que atingiu taxas superiores a 20%, como queda, de 0,12%. O fluxo de viajantes rodoviários aumentou no primeiro trimestre de 2013 em comparação com o mesmo período do ano passado, suspendendo uma tendência de queda de sete anos, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A redução das passagens de avião fisgou a classe média emergente e atingiu consideravelmente o setor rodoviário, pois a concorrência é de mais de 60% nos roteiros interestaduais. Mas a realidade chegou.
Fonte! Este Chasque é o editorial que foi publidado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre / RS, na edição do dia 16 de agosto de 2013.
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