Os problemas financeiros das famílias podem ser evitados com ajustes no estilo de vida

Também por dificuldades em planejar, muitas famílias ignoram os custos resultantes da melhoria de vida que acontece ao consumirmos mais. Ao planejar a compra de um automóvel, somos estimulados a colocar na ponta do lápis os gastos com seguro, IPVA, combustível e manutenções básicas. Mas raramente se estima o custo de aproveitar o veículo nos fins de semana – quem tem quer aproveitar com passeios e viagens – e também uma provisão para multas e reparos de pequenos acidentes, que deveriam ser esperados por motoristas de primeira viagem. Lembre que automóvel, moradia, celular e muitos eletrodomésticos ainda são novidades que surgem pela primeira vez na história da maioria das famílias brasileiras.
O Brasil vive um boom de consumidores de primeira viagem. Assim como os compradores de veículos não têm histórico familiar para estimar os gastos com viagens e multas, compradores de smartphones ignoram o provável gasto com aplicativos, assim como quem compra computadores não planeja a compra de softwares e planos de uso de internet. As decisões de consumo baseadas no conceito de “dá para pagar a prestação” resultam em gastos inesperados, com os serviços acessórios às grandes compras. E é justamente nos serviços que a inflação vem destruindo o poder de compra dos brasileiros.
Surge aí outro tipo de falta de planejamento: a falta de incentivos e investimentos na expansão e no ganho de escala dos serviços, para acompanhar o consumo. Ao adotar a política reativa à pressão do lobby da indústria manufatureira, o governo estimula a compra de imóveis, automóveis e eletrodomésticos, mas a pulverização da indústria de serviços tira dela a força necessária para pressionar o governo a estimular investimentos no seu setor. Com a demanda maior do que a oferta, acontece a alta nos preços.
A inflação nos serviços deve ser combatida com educação para o empreendedorismo e estímulo à concorrência. Os problemas financeiros das famílias podem ser evitados com escolhas de consumo mais sustentáveis e ajustes no estilo de vida. A primeira e mais importante iniciativa que cada brasileiro deveria adotar é a redução no consumo dos gastos maiores e inflexíveis, principalmente moradia, automóvel e tecnologia. Trata-se aqui não de eliminar gastos, mas de reduzir o padrão de itens que tornam inviáveis o consumo dos demais.
Com uma moradia caprichada e sem verba para o resto, seu consumo se limita à moradia. Com uma moradia 10% ou 15% mais barata, você pode incluir lazer, cultura e qualidade de vida em sua cesta de consumo. Em outras palavras, um estilo de vida um pouco mais simples é extremamente recompensador, quando nele encontramos uma variedade maior de opções de consumo e maior tranquilidade para lidar com imprevistos e aumento de preços.
Não é uma mudança simples de adotar, pois envolve abrir mão do status, da parcela aparente do consumo. Nossa cultura latina valoriza principalmente o que as pessoas ostentam. Quem aparenta ser bem-sucedido, mesmo que com problemas financeiros, ainda é mais valorizado pela sociedade do que aqueles que, para se manter em equilíbrio, abrem mão de ostentar as grifes da moda. Precisamos, na verdade, dar mais atenção a nossa voz interior e ouvir menos a bajulação de uma sociedade que só valoriza a aparência. Trata-se da clássica reflexão sobre trocar o ter pelo ser.
Fonte! Este é um chasque de Gustavo Cerbasi, publicado no portal da Revista Época, no dia 02 de julho de 2013. Abra as porteiras clicando em http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/gustavo-cerbasi/noticia/2013/07/caminhos-para-bconsumir-mais-e-gastar-menosb.html.
Fonte do retrato! Sítio Facebook Gustavo Cerbasi (oficial): https://www.facebook.com/GustavoCerbasiOficial?fref=ts
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