quarta-feira, 17 de julho de 2013

Chasque Bizarro 22! O papagaio jurídico

O casamento foi acumulando tempo e ódio recíproco. Os outrora apaixonados tinham se transformado em inimigos íntimos. A separação foi inevitável.

Não tinham filhos, mas adquiriram bens, que precisavam ser divididos. E aí surgiu o campeonato de mesquinhez.

Os advogados tentavam demover os clientes da opção do litígio exacerbado. Superados os obstáculos, a partilha estava pronta, os bens divididos e só faltava a formalização para o fim do processo. Então surgiu um elemento que, até então, não havia sido mencionado. O Pepe.

Era um papagaio que fora ganho de um amigo comum. A ave era dos dois e não havia como dividir. O impasse estava criado. O casal não transigia, cada qual queria para si o Pepe.

Não bastasse isso, entre outras divergências havia a futebolística; ela era torcedora do Inter, e ele, do Grêmio. Ela sustentava que o papagaio gritava “coloraaaadooo”, ele confirmava a oralidade da ave, mas que seu cântico era “grêêêêmio”.

Essa particularidade animou os advogados, que convenceram os clientes que a decisão de quem ficaria com o papagaio, só dependeria do próprio Pepe, pela sua escolha clubística. Porém, como nenhuma solução é perfeita, houve a exigência dos clientes de que a manifestação do bicho fosse feita diante do juiz. Os advogados pensaram em desistir e até renunciar aos mandatos, mas como o processo estava quase no final e o patrimônio era interessante, decidiram falar com o magistrado, a quem narraram todo histórico. Assim conseguiram que o julgador considerasse o esforço conciliatório e acatasse o pedido. Tudo foi tratado em sigilo e sob condições antes estabelecidas.

As petições deveriam estar prontas e assinadas pelas partes e advogados, encerrando o processo antes da decisão sobre o destino do Pepe, para só depois tratarem da questão aviária. Para não chamar a atenção, o papagaio deveria ser conduzido ao foro numa gaiola dentro de uma bolsa.

Colhidas as assinaturas, a gaiola subiu para a sala de audiências. O Pepe, estranhando o ambiente, ficou mudo. O constrangimento era grande e o julgador estava impaciente, quando alguém teve a ideia de mostrar no notebook alguma imagem de futebol, para que o bicho abrisse o bico e soltasse a voz.

Naquele momento o grenal matrimonial viveu um clima de suspense absoluto; o Pepe via cenas de um jogo, e as pessoas à sua volta acompanhavam suas reações. Foi então que sacudiu as asas e, imitando aquelas transmissões da Globo nos jogos da seleção, gritou:

- Brasiiiiiiillll!

O juiz, que era bem-humorado, fingiu ter perdido a paciência e bateu na mesa dizendo:


- O casal está separado e a partilha homologada!

Levantou-se, pegou a gaiola, foi à janela, abriu a portinhola e concluiu:

- Concedo habeas corpus para este papagaio!

E o Pepe saiu voando...

Fonte! Este é um chasque de Léo Iolovitch, advogado - OAB-RS nº 6.667, publicado na coluna Espaço Vital, do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), na edição do dia 16 de julho de 2013.

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