quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Tesouro Direto é opção de longo prazo

Quem aproveitou a oportunidade teve ganhos

dignos da bolsa com aplicação no Tesouro Direto

FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC


A gangorra eleitoral de outubro provocou a mais rápida alteração já registrada nas taxas do Tesouro Direto, o programa on-line de compra de títulos públicos. Quem aproveitou a oportunidade teve com a renda fixa ganhos dignos da bolsa. Passado o pleito, porém, a expectativa é de maior estabilidade em papéis cujos juros já estão em patamar baixo. Mas especialistas afirmam que, com uma estratégia certa de longo prazo, ainda é possível obter retornos atraentes com os títulos públicos.   

Os títulos prefixados e indexados à inflação (juros mais a variação dos preços do período) do Tesouro Direto são vendidos com taxas que variam de acordo com as condições de mercado. Quando os investidores acreditam que as condições econômicas vão piorar no futuro, a tendência é que esses juros subam, e vice-versa. Em período eleitoral, a incerteza sobre o resultado agrava as oscilações. 

Antes do primeiro turno, com o crescimento de Fernando Haddad nas pesquisas, as taxas subiram. Isso porque, em geral, a plataforma econômica do petista desagradava aos agentes do mercado, e eles imaginavam que o País precisaria apertar os juros no futuro caso ele vencesse. No início de setembro, o Tesouro Prefixado com vencimento em 2021 chegou a oferecer taxa de mais de 10% aos investidores. Com o crescimento de Bolsonaro, com discurso pró-mercado, porém, os juros cederam. No dia seguinte ao segundo turno, a taxa do papel era de 8,03%. 
Quando as taxas dos novos papéis caem, o valor dos títulos que já circulavam no mercado sobe, uma vez que eles oferecem retorno maior. Por isso que, em outubro, os títulos indexados à inflação registraram a maior valorização desde o início da série histórica, em 2003. O índice IMA-B, que representa uma cesta desses papéis, teve alta de 7,14%. Já o IMA-B 5 , composto por títulos com vencimentos acima de cinco anos, saltou 10,66%. 

"Notamos esse movimento da segunda quinzena de outubro para frente", contou Fábio Macedo, diretor comercial da Easynvest. "Mas o fluxo de compra continuou forte mesmo depois disso, porque ainda há taxas interessantes."  

Quem comprou R$ 10 mil em títulos indexados à inflação com vencimento em 2035 em 25 de setembro, por exemplo, lucrou R$ 1.070,00 ao vender os papéis em 29 de outubro. A operação representaria um ganho de 10,7% em pouco mais de um mês, maior que a alta de 6,6% registrada pela bolsa no mesmo período.  

Mas movimentos de curto prazo como esse têm um custo. Quem fica menos de seis meses com um título na mão paga Imposto de Renda de 22,5%, a maior alíquota. Roberto Indech, da Rico Investimentos, alertou para o risco que pequenos investidores correm ao especular no curto prazo com títulos públicos, uma vez que vender os papéis antes do vencimento pode levar a perdas, dependendo das condições de mercado.  

A partir de agora, a expectativa é de oscilações mais brandas nas taxas. "Agora, tudo depende de ações concretas. A sinalização é muito boa, mas o espaço entre promessa e realização é grande, e a tendência é que os juros fechem em ritmo mais lento", analisou Marcelo Sande, da plataforma de investimentos Genial. 

Na avaliação de Sande, caso se concretizem as propostas de Bolsonaro que agradam ao mercado, títulos com prazo mais longo devem atrair investidores estrangeiros. "Ainda tem uma gordura para ser queimada na parte longa da curva de juros com o governo realizando o que promete. Mas os investidores devem saber que esses papéis também são bastante sensíveis ao exterior", completou.  

Rafael Mazzer, gerente de portfólio do braço de gestão do BTG Pactual, acredita que o maior ganho potencial está em papéis prefixados de longo prazo, mas admite que eles são vulneráveis a grande volatilidade. Por isso, para pessoas físicas, sugere como alternativa papéis atrelados à inflação. "Para pequenos investidores, preferimos papéis atrelados à inflação, mesmo que se abra mão de algum ganho. Isso porque, em caso de reversão de cenário, a expectativa para a inflação também se eleva, compensando parte do movimento. Funciona como uma espécie de seguro", disse. 

Segundo Indech, da Rico, o investidor que acredita que poderá precisar do dinheiro no curto prazo deve se manter nos títulos pós-fixados, aqueles que seguem a taxa Selic e não sujeitam o investidor a perdas em caso de saída antes do vencimento. Já em aplicações de prazo mais longo, ele sugere o Tesouro IPCA com vencimento em 2024. "Não gosto de recomendar ativos de longuíssimo prazo, porque as coisas mudam muito rapidamente no Brasil. E o Tesouro IPCA é mais indicado porque protege da inflação."  

Fonte! Chasque (reportagem) publicado no caderno Empresas & Negócios, do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, na edição do dia 19 de novembro de 2018.

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