quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Manobra radical de um novo aposentado

A aposentadoria era um desejo que nunca se realizava. Seu Manuel sonhava com ela a cada noite. Nas tardes de conversa sob os cinamomos, tomando mate, falava dela como de um horizonte que abriria as portas do céu na sua vida: “O homem nasce para tomar chimarrão, criar bem os filhos e se aposentar”, filosofava. Um dia, quando ninguém mais esperava, a aposentadoria do Seu Manual chegou como um meteoro. Ele pegou o seu caniço, no melhor estilo aposentadoria de filme, e foi pescar na grande lagoa da sua infância. A aposentadoria para ele era isso: um retorno à infância – que era a lagoa –, à liberdade, aos prazeres do cotidiano (vadiar, jogar e pescar). Sem dever de casa nem tabuada ou afluentes do Amazonas. Uma semana depois, entediado e cheio de dores imaginárias, sonhava com a volta ao trabalho e jurava que seria readmitido por determinação legal.

– O governador vai requisitar a nossa volta – informava.

Meu amigo Celso Dias se aposentou neste começo de dezembro. Celso é bom de bola – dá chapéus e janelinhas como quem anda de bicicleta (mas eu faço mais gols do que ele), poeta, contista, cronista, tocador de pandeiro, boêmio, namorador e grande leitor. Tenho certeza de que não vai sofrer como Seu Manuel. A primeira medida de Celso depois da aposentadoria mostra que ele é um aposentado com atitude, o que muda tudo e abre um futuro inédito:

– Comprei um skate – disse quando telefonei para cumprimentá-lo.

Acho que ele falou “vou comprar um skate”, mas isso tiraria um pouco da força da decisão. Fiquei babando de admiração. Comentei:

– Isso é que é uma manobra radical.

Celso é um aposentado consciente e responsável. Mostrou o quanto está preparado para essa nova e inquietante etapa da vida:

– Um pranchão, sabe? Um skate de andar pra frente e pra trás.

– Ah, tem isso?

– Tem. E tem aqueles skates pequenos de manobras ousadas.

– Esse vem depois? – instiguei.

– Vai depender da minha evolução.

Acho que ele não falou evolução. Mas fica melhor na crônica, que tem suas leis e não pode ou não deve ser contrariada na sua lógica. Celso vai fazer algo que nunca terei coragem, embora sonhe com isso tanto quanto Seu Manoel sonhava com a aposentadoria: ser skatista. Meu amigo Celso Dias (ele assina também Celso Dias e Noites ou Celso Noites e Dias dependendo da época) domina uma arte em extinção. É, como dizem os franceses, um “causeur”. Décio Freitas, de quem sinto saudades quase todo dia, era um grande “causeur”. O “causeur” é um conversador. Mas não de fiado. Um artista da conversação. Celso reúne quatro condições ideais para a aposentadoria: é “causeur”, “flâneur” (passeador), escritor e leitor.

Imagino Celso dando cursos, dentro de alguns anos, sobre como ser um aposentado feliz. Celso foi meu colega na antropologia e meu aluno na comunicação. Quero ser seu aluno de aposentadoria feliz. Só não me atreverei no skate. Nem no pranchão. Sou tímido. Também não atacarei no pandeiro. Não tenho ritmo. Celso também é bom de samba. Como se aposentou como funcionário público, não será consumido pelo fator previdenciário. A minha visão da aposentadoria depende dele.

Fonte! Este chasque (texto) é de Juremir Machado da Silva, publicado no Sítio Oficial do Correio do Poro de Porto Alegre, no dia 08 de dezembro de 2014. Abra as porteiras clicando em http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=6755


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Nota da O Bolso da Bombacha

Mesmo sendo uma crônica, devemos levar em conta que sempre precisamos, ao longo da vida nos preparar com uma aposentadoria complementar, principalmente que não for funcionário público, pois o benefício do INSS, com certeza será insuficiente.

Valdemar Engroff

 

domingo, 7 de dezembro de 2014

Expectativa de vida das gaúchas é de 80,3 anos


Esperança da população brasileira ao nascer já é de 74,9 anos

MARCELO G. RIBEIRO/JC
Pesquisa aponta que diferença entre os sexos vem aumentando nas últimas décadas no País
Pesquisa aponta que diferença entre os sexos vem aumentando nas últimas décadas no País
No intervalo de apenas um ano, os brasileiros ganharam, em média, quase quatro meses a mais de expectativa de vida. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem, a esperança de vida ao nascer da população do País atingiu 74,9 anos em 2013, 3 meses e 15 dias a mais do que em 2012. Para a população masculina, o aumento foi de três meses e 29 dias. Os homens, porém, têm uma expectativa menor. Passou de 71 anos em 2012 para 71,3 anos em 2013. Já para as mulheres, subiu de 78,3 anos para 78,6. No Estado, as mulheres apresentaram, no ano passado, expectativa de vida maior do que a média do Brasil, chegando aos 80,3 anos. A diferença em comparação com os homens é grande, sendo a média deles de 73,4. Já a idade da população gaúcha em geral ficou em 76,9 anos.

A unidade da federação com maior expectativa ao nascer para ambos os sexos, em 2013, foi Santa Catarina, com 78,1 anos. Santa Catarina também foi o estado com maior esperança de vida para os homens (74,7 anos), e para as mulheres (81,4 anos). Juntam-se à Santa Catarina os estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal, cujas mulheres ultrapassaram a barreira dos 80 anos. As informações estão nas Tábuas Completas de Mortalidade do Brasil de 2013, que apresentam as expectativas de vida até os 80 anos e são usadas pelo Ministério da Previdência Social como um dos parâmetros para determinar o fator previdenciário, no cálculo das aposentadorias do Regime-Geral de Previdência Social.

Em 1980, a expectativa de vida ao nascer no Brasil para a população de ambos os sexos era de 62,5 anos, uma diferença de 12,4 anos em relação ao apurado em 2013. Assim, ao longo de 33 anos, incrementou-se, anualmente, em uma média de quatro meses e 13 dias. O ganho observado no período foi maior para as mulheres (12,9 anos) do que para os homens (11,7 anos). A diferença entre os sexos também vem aumentando. Em 1980, a diferença entre as expectativas era de 6,1 anos a mais para as mulheres e, em 2013, foi de 7,3 anos.

O IBGE revela ainda que a taxa de mortalidade infantil (até um ano de idade) no ano passado ficou em 15 para cada mil nascidos vivos e a taxa de mortalidade na infância (até cinco anos de idade) ficou em 17,4 por mil. Em 1980, a taxa infantil estava próxima dos 70 por mil nascidos vivos. Outro dado importante é que os índices de mortalidade são maiores na população masculina desde o instante do nascimento. A probabilidade de um recém-nascido do sexo masculino não completar o primeiro ano de vida foi de 16,3 para cada mil nascidos vivos. Para o sexo feminino, o índice foi de 13,7 por mil, uma diferença de 2,6 óbitos. Assim, a mortalidade infantil para os meninos é 1,2 vez maior do que para as meninas.

Entre um e dois anos de idade, o índice passa para 1,3 vez, mantendo-se neste nível até os noves anos. A partir dessa idade, cresce até atingir o valor máximo entre os 22 e 23 anos, quando um homem de 22 anos tem 4,6 vezes mais chances de não atingir os 23 anos do que uma mulher.

Maior longevidade exigirá mais trabalho até a aposentadoria

Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, o número de dias de contribuição necessários para que o trabalhador possa se aposentar recebendo os valores praticados atualmente também aumentou. É que a expectativa é um dos elementos que causam impacto no fator previdenciário, usado para calcular o valor das aposentadorias por tempo de contribuição.

Além da expectativa, o cálculo do fator considera ainda a alíquota de contribuição, a idade do trabalhador e o tempo de contribuição à Previdência Social. O novo fator incidirá sobre os benefícios requeridos a partir de ontem.

Segundo a nova Tabela de Expectativas de Sobrevida e Fator Previdenciário 2000-2015, um segurado com 55 anos de idade e 35 de contribuição que requerer a aposentadoria agora, vai ter que contribuir por mais 79 dias corridos para manter o valor de benefício que tinha como base a tabela anterior.

Fonte! Chasque (matéria) veiculado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre, edição do dia 02 de dezembro de 2014