sábado, 20 de outubro de 2018

Educação financeira de cooperativa invade escolas de Farroupilha - RS

Alunos aprendem a lidar com o dinheiro e a poupar por
meio do jogo Trilhas dos Sonhos LUIZA PRADO/JC

O pequeno Nicolas Zamboni Xavier, nove anos, escolhe uma carta do jogo Trilhas dos Sonhos que diz: "Pense, quem guarda sempre tem dinheiro". Não foi à toa que o menino, estudante de terceira série do Ensino Fundamental da Escola Municipal Presidente Dutra, selecionou essa reflexão. Nicolas e os colegas, orientados pela professora Merlim Zanandréa, estão aprendendo desde cedo regrinhas básicas para gerir o dinheiro e planejar gastos, da mesada até o orçamento da família. Na sala de aula, o grupo tem, uma vez por semana, atividades com o jogo, que insere, de forma lúdica, lições para encarar momentos em que pode ser mais prudente guardar para literalmente realizar os sonhos.

"Eu quero ir para o Japão", "eu, para os Estados Unidos", "meu sonho é ser jogador de futebol" e "eu quero ir a Paris", listam, em sequência, Manuela Spuldaro Capovilla, Gabrieli Pavoni Picollo, Sara Motele e Erik Maciel Giotti. Nicolas emenda que poupar garante dinheiro para quando "acontecer algo de bom ou ruim". "E vale para a gente e para todo tipo de pessoa", previne o menino, citando que sua mãe costuma gastar em itens desnecessários para cuidados com o cabelo. "Ela inventa umas modas que não precisa. O cabelo dela já é bonito", conta. O recado final do garoto é que, se a mãe economizar, sobra mais até para a família viajar.

Esse clima em sala de aula mostra os resultados de um programa que uniu a Secretaria da Educação do município de Farroupilha e a Sicredi Serrana, com sede em Carlos Barbosa. Desde 2017, o projeto Atitude Cidadã, que já existia em 22 escolas da rede municipal somando mais de 6 mil alunos, ganhou o aporte do programa de Educação Financeira da cooperativa de crédito, que inclui a formação dos professores na metodologia chamada de Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar (DSOP). O jogo Trilhas do Sonhos foi criado pela equipe da Sicredi e torna muito mais divertido assimilar o que deve ser uma cultura para o futuro.

Merlim lembra que as crianças aprendem desde sistema monetário, primeiros passos na educação e a economizar o dinheiro "para ter uma vida melhor e alcançar seus desejos e sonhos". O jogo, que lembra o Banco Imobiliário, presente na infância de muita gente, desenvolve o raciocínio lógico e insere temas como sustentabilidade. "Quando questiono se ganharam mesada dos pais e economizaram, a resposta é sempre positiva, e ainda trazem relatos de como fizeram e o que planejam com o dinheirinho. Muitos guardam para comprar um livro. O resultado está aparecendo."

O assessor de programas sociais da cooperativa, Gabriel Munchen, explica que a iniciativa se encaixa em um processo de gerar ações para fora da operação e estrutura da Sicredi, alcançando públicos como escolas, além da comunidade. O pacote inclui primeiro capacitar os professores para terem o subsídio da educação financeira "para depois transcender com o aluno". "Primeiro, o professor, e, depois, o aluno", define Munchen. Cátia Maria Tonin atua na orientação e apoio dos professores e reforça que antes eles precisam entender a importância da organização financeira pessoal. Os alunos são o alvo depois disso. "Se o professor consegue se organizar, isso reflete no bem-estar, pois fica mais tranquilo fazer a gestão de suas finanças", justifica Cátia.

A secretária de Educação do município, Elaine Giuliato, diz que o programa quer tornar as crianças e os adolescentes mais aptos para a vida. Por isso, a Sicredi entrou com tudo na parceria. Desde 2015, a cooperativa aciona ações voltadas a funcionários, associados e comunidade aplicando o conceito do DSOP. "É um projeto que dá muito prazer. O Brasil não é um país endividado? Quem sabe trabalhando desde cedo teremos outro país no futuro", acredita Elaine. 

Fonte! Chasque (matéria) de Patrícia Comunello, veiculada nas páginas do caderno "Jornal Cidades", do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, na edição do dia 19 de outubro de 2018. 

Educação financeira muda hábitos na Serra


Educadores financeiros recém formados vão disseminar

 técnicas para associados e comunidade LUIZA PRADO/JC

Em Carlos Barbosa, a cem quilômetros de Porto Alegre, é permitido ter sonhos. Mas antes é preciso colocar as finanças pessoais em ordem. Pode parecer injusto, ainda mais com o elevado endividamento que parece não ter fim no País. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 60% das famílias têm despesas acima da capacidade.

Mas graças a medidas que a cooperativa Sicredi Serrana prioriza há três anos, seguindo programa da central Sicredi Sul/Sudeste, funcionários da cooperativa, cem mil associados e comunidade, o caminho para realizar um desejo - do mais simples ao mais arrojado - é factível. A senha é incorporar ferramentas de educação financeira. O Jornal do Comércio subiu a serra para conhecer a experiência levada ainda a cooperativas de produção e até a gigantes como a Tramontina e até a moradores de 23 municípios e até à escolas de Farroupilha, onde professores fazem educação financeira e levam noções da área a crianças e adolescentes.

"A demanda sobre este tema era grande. Aí decidimos montar um projeto de educação financeira para trabalhar a atitude e a cultura da sociedade", diz o gerente de marketing da Sicredi Serrana, César Possamai. "Falamos com as pessoas de educação financeira e não de venda de produtos e serviços. Por sermos uma cooperativa de crédito, temos de gerar uma concepção diferente", reforça Possamai.

A integrante da central Sicredi Sul/Sudeste virou referência no uso de uma metodologia de Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Planejar (DSOP), desenvolvida por Reinaldo Domingos, especialista na área e que autorizou a multiplicação da DSOP pelo sistema. A fase de diagnóstico, primeiro passo, é a mais dolorosa, diz André Luis Thums, assessor da Sicredi Serrana. "É preciso anotar os gastos por 30 dias, e muitos desistem no 10º dia, mas o hábito só vira realidade se for persistido até o 21º dia. Depois disso, as demais ações acontecem", motiva Thums.

O conteúdo é levado em palestras ou cursos mais intensivos que incluem a leitura do livro de Domingos, chamado Terapia Financeira. A Sicredi Sul/Sudeste diz que quase 67 mil pessoas participaram das ações no primeiro semestre deste ano, o que já superou o número de 2017, que somou 65 mil pessoas. O programa está tão enraizado na operação que a central passou a apoiar a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef) criada pelo Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) do Banco Central. Fernanda Chidem, coordenadora do programa na Sicredi Sul/Sudeste, que dissemina o DSOP a 43 unidades, aponta que um dos trunfos da Sicredi Serrana é o engajamento dos funcionários. "Eles perceberam que precisavam ajudar os associados e detectaram a educação financeira como uma demanda. A cooperativa não trabalha com metas para bater", cita Fernanda, como uma conduta que revela a diferença.

Na organização de Carlos Barbosa, 7 mil pessoas foram alcançadas com palestras e 2 mil delas fizeram a leitura de material didático que inclui um livro e oficina de quatro horas desde 2015. Até os postos de direção passam pelas lições. O presidente da cooperativa, Marcos André Balbinot, fez o curso, testou sua organização pessoal para encarar os quatro pilares e envolveu a família.

"Fiz o piloto do curso, depois chamei minha mulher e filha. Tinha de anotar todos os gastos. Vale a pena dedicar mais controle e objetivo na vida financeira para realizar sonhos e projetos", atesta o presidente. As ações em educação financeira são apontadas como decisivas para o desempenho geral da Sicredi Serrana, onde a inadimplência caiu de 1,76% em dezembro de 2016 para 0,8% no mesmo mês de 2017, metade do percentual do sistema cooperativo e um quarto dos 3,25% do sistema financeiro comercial.

Domingos diz que a Sicredi virou "uma grande aliada na disseminação da educação financeira da DSOP". A metodologia tem base científica", assegura o criador, ressaltando a formação de educadores para ampliar o uso dos conceitos como decisiva. A Sicredi Serrana formou 30 funcionários na metodologia. "Isso explica muito do sucesso, pois a educação é a essência. Estamos falando de educação de adultos, e a primeira regra é fazer sentido para eles", reforça Gabriel Munchem, assessor de programas sociais da unidade.

Uma nova leva foi formada em setembro, que passará a levar o DSOP a colegas, associados e comunidade. "Resolvi fazer o curso porque acredito na ideia da educação financeira para desenvolver as pessoas. Já sigo na minha vida os pilares, tenho de servir de exemplo", diz Kellen Costella, uma das novas educadoras financeiras.   

Vinícola Garibaldi e Santa Clara adotam cursos para funcionários

Thums (atrás, à direita) dirigiu a formação na Santa Clara
 e diz que primeira barreira é diagnosticar despesas
COOPERATIVA SANTA CALARA/DIVULGAÇÃO/JC

Duas das cooperativas mais conhecidas da serra - a Vinícola Garibaldi e a Santa Calara, na área de laticínios - tiveram cursos e palestras do programa da Sicredi Serrana. 

As duas organizações são associadas da unidade serrana. Na Santa Clara, o programa dos quatro pilares de educação financeira atendeu a uma demanda que existia internamente, mas não se sabia como fazer, admite a gerente de recursos humanos Luciane Tonin Mecca. "O projeto caiu como uma luva. Primeiro, os gestores fizeram a formação, para poder levar aos demais funcionários. Os 400 funcionários da sede em Carlos Barbosa participaram da palestra no primeiro semestre.

"A linguagem é simples. As pessoas conseguem enxergar que podem fazer, desde que consigam planejar", cita Luciane. Os funcionários da operação e seus familiares farão um curso para mergulhar nos pilares. "Mais de 90% das pessoas que seguem os quatro passos mudam alguma coisa na organização financeira", garante André Luis Thums, que deu o curso na Santa Clara.

A gerente de RH cita que percebeu mudanças dentro da Santa Clara, pessoas buscando se endividar menos e tratando da questão financeira com familiares. "Alexandre Angonesi, diretor-executivo da Garibaldi, diz que a palestra e curso em 2017. "É muito provocativo, boa parte das pessoas não tem habilidade, não é educado para lidar com dinheiro.

Na vinícola, os 140 funcionários assistiram á abordagem e outros 40 fizeram o curso, incluindo Angonesi. Santa Clara e Garibaldi planejam no futuro levar as ações para associados. "Eles não têm o hábito de colocar tudo no papel e planejar. O programa pode ajudar até na gestão", antevê o diretor-executivo. 


Fonte! Chasque (matéria) de Patrícia Comunello, veiculado nas páginas do Jornal do Comérico de Porto Alegre - RS, edição do dia 19 de outubro de 2018.