quarta-feira, 24 de abril de 2019

Poupança, por que te quero

Retrato - arquivo pessoal

Concluí a coluna "Reduza o custo de investir" (18/3) informando que o único produto isento de custo, literalmente grátis, é a poupança. A frase criou uma certa expectativa de que, então, a poupança é uma boa opção de investimento, a despeito da imensa torcida contrária.

O fato de a poupança ser isenta de custo - e de Imposto de Renda - não a transforma, automaticamente, na melhor opção de investimento. Mas asseguro que também não é a pior.

O que leva milhões de brasileiros a escolher a poupança não é, isoladamente, a rentabilidade. Aliás, acho que é o que menos importa. TR?! Quem sabe o que é a TR? Quanto foi a TR em 2017 e 2018, por exemplo? Esse indicador, ilustre desconhecido até de muitos profissionais que trabalham no mercado financeiro, não ajuda em nada a compreensão da rentabilidade.

A poupança nova (depósitos a partir de 4 de maio de 2012) remunera 70% da taxa Selic, enquanto a maioria das aplicações de renda fixa paga percentual do CDI. Será que o investidor conhece essas duas taxas e entende a diferença entre elas? Atrevo-me a dizer que não.

E ainda tem a poupança antiga (depósitos feitos até 3 de maio de 2012), que continua pagando taxa prefixada de 0,5% ao mês sempre que a Selic for igual ou superior a 8,5% ao ano.

Se pensarmos bem, a rentabilidade da poupança é muito confusa, não ajuda em nada, pelo contrário, atrapalha.

Então por que a poupança atrai tantas pessoas? Entendo que o que move o investidor em direção à poupança é a simplicidade da aplicação. Ele deposita o dinheiro e pronto, começa a render. Quando precisa do dinheiro, é só sacar.

Ele faz tudo sozinho, não precisa falar com ninguém, gerente da conta, assessor de investimento, agente autônomo, vendedor, consultor, um monte de gente que fala difícil, que vai oferecer produtos que ele não conhece e pode acabar comprando o que não quer e não precisa.

Negociar uma cotação melhor para seu depósito a prazo ou reduzir o custo de investir não está no seu radar. Ele nem sabe que pode, deve achar que é tudo igual e que todos ganham o mesmo, como na poupança.

E não estou falando apenas de investidores com pouco dinheiro para investir. Estou falando da grande maioria das pessoas que querem apenas guardar dinheiro, em um lugar seguro, sem risco de perder, de sacar menos do que aplicou.

Vamos voltar ao exemplo do artigo anterior e comparar o capital acumulado em 20 anos de quatro aplicações: poupança nova e antiga (isentas de custo e de IR), Tesouro Selic (custo de 0,25% ao ano) e fundos de investimento ou planos de previdência (taxa de administração de 2% ao ano).

A simulação considera estáveis a taxa Selic (6,50% ao ano) e o CDI (6,40% ao ano), aplicação mensal de R$ 500,00 a 100% da taxa de referência e alíquota de 15% de IR sobre os rendimentos, no vencimento.

Com essas premissas, o ponto de equilíbrio entre a poupança nova e outros produtos é uma taxa de administração de 1,4% ao ano. Quem paga acima disso ganha menos que a poupança. Aplicações com taxa entre 0,25% e 1,4% ao ano ganham da poupança, mas perdem para o Tesouro Selic.

Fonte! Chasque "Opinião Econômica" de Marcia Dessen, na edição impressa do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, edição de 1º de abril de 2019. Márcia é Planejadora financeira CFP ("Certified Financial Planner"), autora de "Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro

terça-feira, 23 de abril de 2019

Tesouro Selic diminui diferença para caderneta de poupança no curto prazo


Mercado Financeiro>> O Título público é tributado pela tabela regressiva do IR
Recursos chegam a áreas como petróleo, eletricidade
e estradas /FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
O Tesouro Direto, programa de venda de títulos públicos do Tesouro Nacional, reduziu os custos para o investidor que possui o papel mais conservador do programa, o Tesouro Selic. O spread, nome dado para a diferença entre o preço de compra e venda do papel, caiu de 0,04% para 0,01%. Com isso, o produto passa a ser mais vantajoso do que a caderneta de poupança em quase todos os prazos, a não ser em raras exceções.

A afirmação pode soar estranha até para quem acompanha o mundo dos investimentos. A rentabilidade do Tesouro Selic é a própria taxa básica de juros da economia, que está no patamar de 6,5% ao ano. Já a da poupança, hoje, é de 70% da Selic acrescida da Taxa Referencial (TR), atualmente nula.

O investidor atento pode se perguntar como um produto que possui 70% da rentabilidade de outro poderia ser mais vantajoso. A diferença entre os rendimentos ocorre porque o Tesouro Selic possui alguns custos que não existem na poupança.

O título público é tributado pela tabela regressiva do Imposto de Renda (IR). Isso significa que, nos primeiros seis meses, os lucros são taxados pela alíquota de 22,5%. Além disso, a B3, Bolsa de Valores de São Paulo, cobra taxa de custódia de 0,25% ao ano sobre o patrimônio investido, e ainda há o spread, que foi reduzido na última semana.

Já a poupança é isenta de IR, e não incidem outros encargos sobre o produto. Esse cenário faz com que, em alguns prazos mais curtos - e especialmente próximos ao aniversário da caderneta -, o investimento apresente uma rentabilidade maior do que a do título público.

Segundo cálculos do professor de finanças da FIA, Marcos Piellusch, antes da redução das taxas, quem aplicou no Tesouro Selic 2023 em 2 de janeiro de 2018 e fez o resgate em até oito dias sacou menos dinheiro do que aplicou. Com as novas taxas, o produto passaria a ter rentabilidade positiva já no terceiro dia de aplicação.

Ainda que esse fenômeno não ocorra na poupança, especialistas afirmam que ela não pode ser considerada vantajosa frente ao título público. Para eles, o produto possui o lado negativo de ser remunerado em uma única data por mês, a do aniversário. Com isso, caso o investidor precise resgatar antes, fica sem a rentabilidade acumulada no período.

Para Valter Police, diretor de planejamento financeiro da Fiduc, os dois produtos são indicados para compor uma reserva de emergência, ou seja, que precisam ter alta liquidez. "O investidor pode precisar da sua reserva de emergência em qualquer dia do mês, e não só no aniversário."

O diretor comercial da Easynvest, Fabio Macedo, diz que a mudança é bem-vinda para os investidores. "Basicamente, o Tesouro vai pagar mais para recomprar os títulos." Ele concorda com Police: para que a poupança seja vantajosa, é preciso ter muito controle sobre os prazos e finanças pessoais. "É a grande pegadinha da poupança. Simplificando: se você ficar 50 dias no Tesouro, vai receber a remuneração dos 50 dias. Na poupança, receberia só 30."

Segundo o gerente do Tesouro Direto, Paulo Marques, com as novas taxas, o título público agora "ganha ou pelo menos empata" com o investimento mais comum entre os brasileiros - a caderneta de poupança. Ele afirma que a redução nos custos foi possível por causa de melhorias implantadas pelos servidores e que já vinham sendo desenvolvidas há bastante tempo.

De acordo com ele, diminuir os custos para o investidor é um objetivo do Tesouro. Também são estudadas reduções do spread para os outros títulos da plataforma. Ele lembra que, no ano passado, a taxa de custódia dos produtos também caiu de 0,30% ao ano para 0,25% ao ano. 

Fonte! Chasque publicado no caderno Empresas & Negócios, encartado no Jornal do Comércio de Porto Alegre, na edição do dia 15 de abril de 2019.