quinta-feira, 25 de abril de 2013

Na arena financeira espanhola, o touro vence

A que ponto de desorganização econômico-financeira chegou a Espanha, depois da Grécia, da Irlanda, de Portugal e mesmo da Itália e da França. Até agora, salvaram-se, ali, ali, o Reino Unido e, mais ainda, a Alemanha, sempre austera e disciplinada, é forçoso reconhecer. No entanto, a Espanha é o símbolo da crise da União Europeia (UE), após a turbulência de 2008 nos Estados Unidos (EUA). Pois a Espanha que reimplantou a monarquia e ficava noticiando sobre os seus “reais”, imitando a realeza inglesa, algo anacrônico, mas que rende muitos milhões de euros em turismo, até mesmo por conta dos periódicos escândalos que assustam o Reino Unido, mas para o deleite dos tabloides sensacionalistas. Depois de duas décadas em que se transformou no destino preferido de estudantes, turistas e políticos de boa parte do mundo, incluindo os brasileiros, a Espanha desabou fragorosamente. E, tudo indica, o retorno ao primeiro time será longo e doloroso.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Espanha deve se reduzir entre 1,0% e 1,5% este ano e crescer ligeiramente em 2014. Por isso, a Espanha apresentará novos planos orçamentários para os próximos anos, que darão mais ênfase ao crescimento econômico do que à redução do déficit orçamentário. O governo espanhol está negociando com autoridades da União Europeia metas de déficit menores do que com as quais o país se comprometeu para os próximos anos. De acordo com a meta atual, a Espanha precisa reduzir seu déficit orçamentário abaixo de 3% do PIB, limite estabelecido para os países da UE no ano que vem.

Diante de uma forte pressão da UE e de investidores internacionais, a Espanha conseguiu reduzir seu déficit orçamentário para 7,0% no ano passado, de 9,0% do ano anterior. Contudo, o intenso corte de gastos e o aumento dos impostos têm um custo muito alto, o que dificulta o crescimento econômico. 

Porém, quem mais tem sofrido é o povo, pois a Espanha tem grande número de famílias despejadas. E a polícia, cumprindo determinações judiciais, tem sido implacável. Um cidadão que há meses não paga a hipoteca afirmou que, durante a desocupação forçada, aquele foi o momento mais humilhante da sua vida, quando a polícia retirou do imóvel ele, a mulher e três filhos pequenos. Realmente, é triste, mas é a lei, inexorável, do modelo adorado pelos espanhóis até alguns anos passados. Hoje, passeatas pedem até o fim da monarquia, considerada anacrônica e gastadora de dinheiro público sem qualquer serventia, o que parece uma obviedade no mundo atual. Vizinhos dos despejados insultam os oficiais de Justiça e os policiais que conduzem os despejos, batendo panelas. Entre berros, choros, empurrões e muito nervosismo, mais uma família era colocada no olho da rua. Há um exército de despejados das próprias casas na Espanha. Os apartamentos comprados em 2005, época ainda da bonança financeira espanhola, hoje não podem ser pagos, pelo desemprego e os baixos salários. Na arena financeira da Espanha, o touro está vencendo a corrida, como no filme Sangue e areia, estrelado por Tyrone Power. Mas antes era ficção. Hoje, é realidade.

Fonte! Este chasque é o editorial do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), da edição do dia 24 de abril de 2013.

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