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Em mais
um passo na disputa por pequenos investidores, corretoras independentes
anunciaram há pouco que deixarão de cobrar taxas de corretagem para operações
em bolsa. Com a decisão, elas levam para a renda variável a disputa de mercado
já consolidada em investimentos de renda fixa - o mais visível é o Tesouro
Direto, cuja isenção de tarifas em corretoras forçou grandes bancos a rever
suas taxas.
Entre as
casas que anunciaram a isenção da taxa de corretagem em Bolsa estão a
Modalmais, corretora ligada ao Banco Modal, e a Clear, comprada pela XP em
2014. Ambas têm operações robustas e outras fontes de receitas que podem ajudar
a minimizar a queda da arrecadação com corretagem.
Rodrigo
Puga, diretor-executivo da Modalmais, explica que a adesão à corretagem zero é
uma opção do cliente, que passaria a pagar um valor maior de mensalidade para
usar a plataforma online de investimentos, que oscila entre R$ 20,00 e R$
250,00 por mês, de acordo com o serviço contratado pelo investidor. Na prática,
a corretora manteria sua receita mesmo oferecendo a isenção na corretagem.
Em seu
site, a Clear informou inicialmente que suas receitas viriam do rendimento dos
recursos parados na conta dos clientes (sistemática parecida com a que ocorre
nos grandes bancos) e das multas cobradas de investidores que deixam saldo
negativo na conta. A informação foi retirada do site no final da semana.
Procurada, a corretora não quis comentar a decisão.
Especialistas
em finanças explicam que a decisão replica o movimento iniciado com a isenção
das taxas do Tesouro Direto. Com isso, elas abriam mão da receita inicial com a
expectativa de que depois esse cliente passaria a investir em outros produtos,
como CDBs (Certificado de Depósito Bancário), com os quais a corretora ganha
uma diferença do rendimento oferecido pelo banco e efetivamente pago pelo
cliente, ou então na renda variável. "O investidor abrir a conta é a parte
mais difícil", diz William Eid Jr, professor da FGV (Fundação Getulio
Vargas).
Até
então, grandes bancos vinham ignorando a guerra tarifária das corretoras,
apostando que a imagem de solidez e a praticidade de se investir no banco
ajudaria a manter clientes. O cenário de juros baixos, com a Selic a 6,50% ao
ano, forçou a mudança.
"Os
bancos têm vantagens como grande número de clientes e volume financeiro. Muitos
investidores acabavam acessando essas instituições pela comodidade de já serem
clientes, mesmo que as taxas cobradas fossem bem mais caras. Sabendo disso, os
bancos preferiam maximizar os resultados com tarifas, enquanto corretoras
menores precisavam oferecer descontos para conseguir captar clientes", diz
César Caselani, professor de finanças da FGV Eaesp (Escola de Administração de
Empresas de São Paulo).
O
Bradesco puxou o movimento dos grandes bancos ao zerar em junho deste ano a
taxa de custódia para investimento no Tesouro Direto. Foi seguido por Itaú,
Santander e Banco do Brasil, que também deixaram de cobrar taxas de custódia
para outros produtos de renda fixa, como CDBs. "Naturalmente, tem um
pedaço dessa decisão que vem de observar o mercado, concorrência sempre é
concorrência. Mas é também uma iniciativa dentro do pilar de atender o cliente
no todo", diz Cassiano Scarpelli, vice-presidente do Bradesco.
No início
de setembro, foi a vez do Itaú oferecer isenção na taxa de custódia do Tesouro
e outros produtos de renda fixa para aplicações feitas por sua corretora.
"O Tesouro pode ser o produto mais sofisticado de entrada para o cliente
do varejo no universo dos investimentos. Mas, com a taxa básica de juros em
nível baixo, o cliente começa a perceber que tarifas comem parte importante da
sua rentabilidade. Já havia corretoras independentes fazendo isso [zerando
taxas] e analisamos que fazia sentido", diz Claudio Sanches, diretor de
produtos de investimento e previdência do Itaú.
Gilberto
Abreu, diretor de investimento do Santander Brasil, avalia que a competição é
boa para o setor bancário. "O Tesouro é quase uma prestação de serviço, é
o cliente que toma a decisão de compra. Do ponto de vista financeiro, é
importante para o cliente [ter essa isenção] e, para a receita do banco, é
bastante marginal", diz Abreu.
Marcelo
Labuto, vice-presidente de negócios de varejo do Banco do Brasil, último dos
grandes bancos a aderir às isenções, afirma que a ideia é conseguir consolidar
mais transações dentro do banco. "Temos clientes que faziam aplicação no
Tesouro sem ser por meio do banco, transferiam dinheiro para corretora por
causa dessa questão do valor da tarifa. Com esse movimento, a ideia é que o
cliente concentre cada vez mais seu patrimônio e seus recursos conosco",
diz. Labuto também reconhece que o mercado está muito competitivo, mas diz não
considerar isso ruim. "Força toda a indústria a se modernizar."
Fonte! Chasque (matéria) veiculada no caderno Empresas e Negócios do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), edição do dia 08 de outubro de 2018.
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