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As
agroindústrias de panificação da reforma agrária diversificam a produção no
campo, colaboram na distribuição de renda dos assentamentos e permitem que o
movimento seja visto de uma maneira mais positiva. Além disso, geram
oportunidades de inclusão que outras culturas não conseguem alcançar. Se na
produção do arroz, da mandioca e do milho a participação das mulheres e jovens
é mínima, no dia a dia das panificadoras do Movimento Sem Terra (MST) ela é
essencial. Já são sete unidades em funcionamento no Coletivo de Padarias de
Porto Alegre e região, que integra as cooperativas de Tapes, Nova Santa Rita,
Charqueadas e Viamão entre as produtoras de pães.
Na
Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (Cootap), dois
períodos estruturaram a panificação como importante forma de renda. O primeiro,
em 2005, foi quando a Cootap acessou o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
- iniciativa federal que compra os produtos de assentamentos e da agricultura
familiar e repassa a para população em vulnerabilidade social, através
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O outro
foi com a conquista dos recursos do Bndes por meio do Funterra, em 2015, que
instrumentalizou a padaria, permitindo maior escala de produção. Foram pouco
mais de R$ 401 mil que foram destinados para compra do maquinário necessário e
permitiu à Cooperativa trabalhar com municípios maiores, através de pregões
eletrônicos.
"Atualmente
nossa padaria é formada por 23 sócios, entre jovens e mulheres, e sua produção
já representa 50% da renda total da cooperativa. Nós conseguimos fornecer pães,
massas e bolachas para Pelotas, Rio Grande, Canoas, Viamão e outros 11
municípios", diz o Coordenador Comercial da Coopat, Fábio Augusto Lopes.
Ele explica que além da distribuição de renda, a produção permite que os
cooperados permaneçam mais tempo com suas famílias, já que as mães e filhos têm
oportunidades de trabalho dentro do assentamento a partir da panificação, e os
pais seguem com a produção do arroz.
No
Assentamento Sino, presente em Nova Santa Rita, a indústria panificadora
nascida em 2014 também tem a união familiar como um de seus pilares. Enquanto
Ida Cristina Portela trabalha na contabilidade e administração da Padaria do
Sino, sua mãe e outras quatro assentadas trabalham na confecção de pães, massas
doces, cucas e bolachas. "Elas tinham o sonho da padaria há muito tempo e
fico muito feliz em ver este projeto dando frutos, gerando renda enquanto
alimenta as crianças de nossa cidade", diz Ida Cristina.
As
assentadas comercializam seus produtos em feiras, mas principalmente por meio
do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) - iniciativa federal que
repassa verba para a alimentação escolar em todas as etapas da educação básica
pública. Através do programa, a Padaria do Sino distribui para as escolas
municipais de Nova Santa Rita, Capela de Santana e uma escola estadual de
Canoas.
A
realização do sonho das cinco assentadas só foi possível com o Funterra,
através dos recursos do Bndes, que permitiram a construção do prédio, a compra
do maquinário e o veículo para transporte dos alimentos. "A burocracia foi
grande, por vezes pensamos que não ia dar, mas o esforço valeu muito a
pena", diz Ida Cristina. A Padaria do Sino recebeu em torno de R$ 280 mil
de investimento. Formada por 50 associados, a Cooperativa de Produtores
Agropecuários do Assentamento der Charqueadas (Coopac) foi uma das primeiras a
instalar a indústria panificadora entre os assentamentos no Estado. O projeto,
iniciado em 1998, só conseguiu alavancar a produção com a conquista do
investimento do Programa Terra Sol, realizado pelo Incra. "Antes fazíamos
os pães no fogão a lenha, a produção era para o autoconsumo e o que sobrava era
comercializado", diz Valcir Ramiro de Oliveira, coordenador da Coopac.
Uma das
grandes conquistas da cooperativa foi a construção de um mercado próprio em
Charqueadas, onde são comercializados, além dos panifícios, hortaliças, grãos e
o leite - principal produção do assentamento. A Coopac também participa do
Pnae, o que lhe permite entregar alimento para todas escolas municipais e
estaduais de Charqueadas e Arroio dos Ratos. A agroindústria panificadora de
charqueadas representa 15% da renda total, de acordo com Oliveira.
Para a
assistente social Sandra Rodrigues, membra da equipe técnica da Cootap e Coptec,
os dois objetivos principais da panificação é diversificar a produção no
assentamento e inserir a mulher campesina no processo produtivo. "As
mulheres no campo não têm espaço na cultura do arroz, consequente, não irão
ajudar na renda de locais onde esta é a única produção. O mesmo caso se aplica
com a juventude do campo", diz Sandra, que também programa de assistência
técnica do Incra, suspenso em setembro do ano passado.
Fonte! Chasque (matéria) do Pedro Carizzo, publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, no Caderno Empresas & Negócios, da edição do dia 26 de fevereiro de 2018.
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