A
principal dica é saber quanto gastar e poupar para
eventualidades
/JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
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É quase
impossível resistir às liquidações de janeiro. Em fevereiro, você faz as contas
para ver se é possível viajar no Carnaval. Nos meses seguintes, também não vão
faltar promoções e ofertas de bens e serviços que podem comprometer uma (boa)
parte da sua renda. Tudo isso, em um cenário de juros mais baixos, inflação sob
controle e volta do emprego, pode levar a um consumo desenfreado e ao
endividamento sem necessidade. Por isso, especialistas recomendam controlar o
orçamento e dosar bem cada compra ao longo do ano.
Há motivo
para tanta cautela. O número de inadimplentes (aqueles com dívidas vencidas há
mais de 90 dias) no Brasil passa dos 61 milhões, e boa parte deles está em
listas de cadastro negativo devido ao descontrole financeiro. Ou seja, gasta
mais do que recebe. Claro, o desemprego contribuiu para isso, mas o universo de
pessoas sem trabalho é bem menor: 12,6 milhões.
Segundo
especialistas, como ficar sem consumir ou não fazer dívidas é quase impossível,
a saída é saber o quanto gastar e quando tomar um empréstimo ou fazer
parcelamentos. E, junto com tudo isso, ter uma reserva financeira para
eventuais contratempos. "As promoções sempre vão existir. Mas você tem de
aproveitá-las quando precisa daquele bem, não comprar algo apenas porque está
em promoção", explica o educador financeiro André Bona.
A mesma
lógica vale para dívidas, incluindo aí o parcelamento do cartão. Quem recorre a
essa alternativa está usando um dinheiro que ainda não ganhou e assumindo um
risco de não ter como quitar essa dívida no futuro. "Se o uso desse
parcelamento ocorrer de maneira desregrada e houver um imprevisto, que nem
precisa ser o desemprego, essa pessoa não vai ter sobra de recursos no
orçamento, porque está tudo comprometido com dívidas", diz Bona.
Na
avaliação de Bona, mesmo o parcelamento sem juros deve ser evitado. Mas, se não
houver outra saída, que seja usado na compra de bens de maior durabilidade,
como eletrodomésticos. "Não faz sentido parcelar as compras do
supermercado, porque esse é um gasto recorrente. Mas, quando necessário, ele
pode ser utilizado para gastos não recorrentes, como a compra de móveis para a
casa, que vão durar alguns anos", afirma.
O
brasileiro compromete com o pagamento de dívidas bancárias 41,4% de sua renda,
incluindo aí os gastos com financiamentos imobiliários - sem estes, o
endividamento fica em 23%. O dado do Banco Central, porém não inclui outros
compromissos financeiros, como o pagamento de contas de consumo.
Então,
para passar longe da lista de superendividados, ou mesmo para não ficar
inadimplente, a recomendação é controlar seus gastos. Especialistas apontam,
porém, o hábito do brasileiro de superestimar suas receitas, como considerar
seu rendimento bruto (sem o Imposto de Renda e outros abatimentos) e subestimar
as despesas.
Para não
cometer este erro, a dica é, por um mês, fazer o registro de tudo o que é gasto
e de todos os recursos que entram na conta-corrente ou no bolso. Sabendo o que
se gasta e o que se ganha, fica mais fácil visualizar quais são as grandes
despesas que podem ser reduzidas, as compras que têm prioridade e quanto deve
ir para a reserva financeira.
Falta de reserva financeira é comum entre a
população, lembram educadores
Reinaldo
Domingos, do canal Dinheiro à Vista, no YouTube, considera que o grande
problema do brasileiro é a falta de autonomia financeira, decorrente do
descontrole entre gastos e receitas. "O problema do brasileiro é não ter
uma reserva estratégica. Em qualquer eventualidade, fica sem dinheiro. Ele faz
as contas olhando só o mês seguinte, mas é preciso olhar mais à frente e se
planejar", assegura.
Quanto à
reserva financeira, diz, o ideal é que seja o equivalente a três salários da
pessoa, ou, no mínimo, a um salário. "É preciso fazer essa reserva. Se não
conseguir, é porque é hora de reduzir as despesas. Ter um padrão de vida
compatível com o que se ganha", afirma Domingos.
Para quem
está inadimplente, a dica é usar 70% do salário para os gastos mensais, 20%
para o pagamento da dívida e 10% para a reserva estratégica. Se a dívida está
em atraso há muito tempo - por exemplo, há mais de um ano -, a recomendação é
juntar os recursos para pagá-la à vista, com desconto.
Para os
educadores financeiros, controlar gastos é importante, porque o aumento do
otimismo do consumidor pode levar a gastos desnecessários. "Há perspectiva
de melhora gradativa no varejo e, aos poucos, o consumidor passa a ter uma
percepção de mais otimismo no cenário econômico, reflexo da queda na taxa de
juros e do desemprego", diz César Fukushima, economista-chefe da
Mastercard Advisors.
Fonte! Chasque (reportagem) publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, na edição do dia 02 de janeiro de 2018.
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