Consumo no Estado caiu 20% em 2014, justamente no momento em que produtores gaúchos voltaram a investir na cultura
No Mercado Público da Capital, banca teve queda de 40% na
venda de erva-mate em 2014
Foto:
Diego Vara / Agencia RBS
O preço mais amargo do chimarrão há pouco mais de um ano fez os gaúchos mudarem seus hábitos na hora de apreciar a bebida-símbolo do Rio Grande do Sul. O tradicional topete de erva-mate praticamente desapareceu das cuias, que também diminuíram de tamanho.
A alteração no comportamento reduziu em 20% o consumo no Estado em 2014, segundo o Sindicato das Indústrias de Erva-Mate do Estado (Sindimate), justamente quando os produtores dobraram o rendimento por hectare ao investir em adubação e manejo de ervais praticamente abandonados.
A escassez de matéria-prima em 2013, reflexo do baixo valor pago aos produtores por muitos anos e dos poucos investimentos na cultura, fez o preço da erva-mate aumentar em mais de 200% para os consumidores. No campo, os agricultores viram a arroba da folha (equivalente a 15 quilos) passar de R$ 8 para R$ 32 naquele período. Com o quilo do produto custando mais de R$ 15 no varejo, os consumidores adaptaram seus hábitos.
– O gaúcho não deixou de tomar chimarrão, só reduziu a quantidade de erva na cuia – diz o presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas), Antonio Longo, confirmando a redução no uso do produto no último ano.
Cuias menores e erva na altura da borda fizeram cair em mais de 1,5 milhão de quilos o consumo mensal no Estado – estimado em 8 milhões de quilos pelo Sindimate. No Brasil, o consumo mensal é de cerca de 15 milhões de quilos de erva-mate.
A baixa refletiu diretamente no preço pago ao produtor, que caiu para menos de R$ 15 por arroba nos últimos meses. Essa redução, porém, não chegou na mesma proporção aos supermercados, diz a Agas. A explicação, segundo o presidente do Sindimate, Gilberto Heck, é a defasagem gerada pela alta de 400% da matéria-prima, que não foi repassada integralmente ao consumidor. O quilo da erva varia hoje entre R$ 7 e R$ 15, conforme o Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate).
– Tivemos um desequilíbrio momentâneo, e o cenário se estabilizou. Oferta e consumo estão equiparados, com preços justos para o mercado – analisa Gilberto Heck, presidente do Sindimate.
Porongo menor
No Rancho Gaúcho, banca 16 do Mercado Público de Porto Alegre, as vendas de erva-mate tiveram redução de 40% em 2014.
– Recentemente, o preço baixou alguns centavos, mas não o suficiente para a retomada no consumo – diz Roberson Groff, gerente da banca, que percebeu aumento nas vendas de cuias menores.
Enquanto o preço da erva não cair, a tendência é de que a procura por cuias pequenas persista. Produtor de 10 hectares de porongo em Santa Maria, Edemilson Guimarães Xavier, 35 anos, cultivou a planta em carreiras mais próximas e controlou o adubo nesta safra para garantir a produção de plantas menores.
– O mercado não quer mais cuias graúdas, com capacidade para 300 gramas de erva. As de 100 gramas são as que mais se vende hoje – confirma Xavier, morador do distrito de Arroio do Só, um dos principais polos de produção de porongo e cuias no Estado.
Plantados em setembro do ano passado, os porongos começarão a ser colhidos em março para, então, serem transformados em cuias. Se depender da baixa de preço e dos consumidores, tendem a ser cada vez menores.

Adubação e manejo permitem dobrar o rendimento de ervais
Com 20 hectares plantados em Ilópolis, no Vale do Taquari, o produtor Cleber Gabiatti, 32 anos, começou a investir nos ervais em 2013, quando o preço da arroba chegou a quadruplicar. Desde então, passou a corrigir o solo com calcário, usar adubação verde (nabo, aveia e ervilhaca) e aperfeiçoar o sistema de poda. O resultado: a produtividade média saltou de mil arrobas para 1,8 mil arrobas por hectare.
– Procuramos assistência técnica, para melhorar a nossa produção, tanto em qualidade quanto em rendimento – conta Gabiatti, que trabalha ao lado da mulher Viviane Durigon e dos pais Dário e Neiva Gabiatti.
Em
Ilópolis, Cleber Gabiatti fez a produtividade nos
ervais crescer de 1
mil para 1,8 mil arrobas por
hectare (Foto: Lidiane Mallmann, especial
Ao mudar o sistema de poda, por exemplo, a família conseguiu fazer brotar mais galhos por planta. A produção é vendida para a ervateira Ximango, de Ilópolis, com a qual mantém parceria há anos. Mesmo com o preço quase pela metade em relação há um ano, em torno de R$ 15, os Gabiatti pretendem seguir investindo nos ervais.
– Hoje pode estar ruim, e amanhã bom. Temos de estar preparados – avalia Cleber.
Ao todo, 13 mil produtores rurais cultivam erva-mate no Estado.
Melhoramento genético é desafio
Com mais de 30 mil hectares de erva-mate plantados, além de outros 7 mil hectares que deverão estar prontos para colher em cinco anos, o Estado não tem variedade da planta registrada e identificada. O quadro pode mudar com convênio firmado no fim de dezembro entre Ibramate e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O trabalho pretende catalogar e fazer o georreferenciamento das árvores superiores nativas que ainda são remanescentes das florestas, habitam as matas ou estão em lavouras.
– Este será o início de um grande programa de melhoramento genético da erva-mate – destaca o diretor-executivo do Ibramate, Roberto Magnos Ferron.
Com ervais uniformes, controle de polinização e alta produtividade, Machadinho poderá ser o primeiro município gaúcho a registrar uma cultivar da planta, pois já está com pedido encaminhado. Com inscrição e identificação, os produtores de mudas poderão gerar sementes de origem conhecida.
– A planta erva-mate é perene, propícia para receber investimento em manejo e genética – destaca Ilvandro Barreto de Melo, assistente técnico regional da Emater.
Os produtores que investirem em tecnologia, segundo Melo, terão mercado garantido, independentemente de oscilações. Ele também acrescenta que a orientação da Emater aos produtores é para que não busquem aumentar a área plantada, mas sim invistam nos ervais já cultivados para expandir o rendimento por hectare.
Ao todo, existem 230 indústrias ervateiras no Estado, com destaque aos polos do Alto Taquari e de Machadinho.
Uruguai também reduz o consumo

como chumbo e cádmio em erva-mate produzida no Brasil
pesou na queda da procura pelo produto
(Foto: Arivaldo Chaves, BD, 8/9/2004)
Maior comprador da erva-mate do Brasil – cerca de 40% da produção nacional – o Uruguai também reduziu o consumo após a escalada de preços do produto no mercado brasileiro. No país onde cada habitante consome em média 11 quilos por ano, dois quilos a mais do que a média gaúcha, a importação do Brasil caiu 25% em 2014, conforme o Sindicato das Indústrias de Erva-Mate do Estado (Sindimate).
O Uruguai não tem clima e solo apropriados para fazer o cultivo da planta, apesar de ser o campeão entre países que consomem mate, por isso é dependente da matéria-prima produzida no Brasil, na Argentina e no Paraguai. No ano passado, quando o preço da erva dobrou nas indústrias brasileiras, o presidente Pepe Mujica chegou a declarar que o aumento representava uma "catástrofe à população uruguaia".
Além da alta de preço, ajudou a reduzir o consumo do produto brasileiro no mercado vizinho a denúncia do Ministério da Saúde Pública do Uruguai da presença acima da quantidade permitida de metais como chumbo e cádmio em erva-mate brasileira. A informação motivou a abertura de inquérito do Ministério Público do Rio Grande do Sul para apurar o caso.
– A baixa no consumo brasileiro e uruguaio fez sobrar erva nas indústrias – reconhece o presidente do Sindimate, Gilberto Luiz Heck, acrescentando que o surgimento de novas ervateiras no Alto Taquari ajudou a aumentar o excedente.
Para o dirigente, o setor precisa reduzir a dependência do mercado gaúcho e uruguaio e buscar oportunidades para ampliar os negócios em outros Estados e no Exterior. Para expandir o consumo, a Caravana Mate Brasil irá divulgar o produto em todo o país.
– Os benefícios da erva-mate para a saúde ainda são desconhecidos de boa parte da população brasileira – destaca Roberto Magnos Ferron, diretor-executivo do Ibramate.
Ao todo, 95% da erva-mate consumida pelos uruguaios é de origem brasileira. O preço da erva-mate no Uruguai é inferior ao do Brasil, mesmo que o produto seja importado daqui. O quilo chegou a custar US$ 3(cerca de R$ 8 o quilo, na cotação atual) entre 2013 e 2014.
Chá-mate pode alavancar mercado
Para ampliar o mercado de erva-mate no Brasil, a indústria aposta em produtos que usam extrato da planta como matéria-prima (cerveja, cosméticos e chá-mate).
Só a Leão Junior SA, fabricante da bebida Matte Leão, consome mais de 2 milhões de quilos de erva por mês _ de um total de cerca de 15 milhões de quilos. Desde que foi comprada pela Coca-Cola Brasil, em 2007, a empresa vem ampliando a distribuição no país.
– Se a Coca-Cola levar o produto ao mundo todo, faltará matéria-prima. É uma empresa chave para alavancar o setor – diz Gilberto Heck, presidente do Sindimate.
Para produção da bebida, a folha da erva-mate é tostada, resultando em chá-mate concentrado. Hoje, o consumo de erva no país chega a 400 gramas per capita, puxado, principalmente, pelo chimarrão.
Fonte! Chasque (reportagem) de Joana Colussi, publicado no sítio do Clic RBS (Campo e Lavoura) no dia 06 de janeiro de 2015. Abra as porteiras clicando em http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/campo-e-lavoura/noticia/2015/01/cuias-menores-para-diminuir-preco-amargo-da-erva-mate-4675823.html
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