quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Gaúchos acumulam mais dívidas do que a média nacional, aponta estudo

Quase 90% dos nomes negativados já estavam endividados há pelo menos 12 meses/RAWPIXEL.COM - FREEPIK.COM/DIVULGA??O/JC

O Rio Grande do Sul atravessa um ciclo de endividamento superior ao observado no restante do País e até mesmo na Região Sul. Dados do SPC Brasil, compilados pela Federação Varejista do Estado, mostram que em setembro o número de consumidores inadimplentes cresceu 8,53% na comparação anual e 5,96% frente a agosto, variações muito acima das médias regional (1,91%) e nacional (0,21%). O indicador que mede o total de dívidas por devedor também acendeu alerta: aumento de 17,72% em um ano e de 6,39% no recorte mensal.
 
 
O perfil do devedor gaúcho tampouco favorece a reversão rápida do quadro. Em setembro, 89,43% dos nomes negativados já estavam cadastrados há pelo menos 12 meses, índice 18,04% maior do que um ano antes. A reincidência dominante revela famílias com pouco espaço para reorganizar o orçamento e que, ao falharem na tentativa de renegociar ou pagar parte das contas, voltam com mais dívidas acumuladas.
 
Segundo Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, isso reflete um cenário de renda comprimida e crédito caro. “Enquanto o modelo for baseado em crédito com juros elevados, a inadimplência tende a permanecer alta. Crédito não é poder de compra. Poder de compra é renda e reserva”, afirma.
 
Ainda que a dívida média por consumidor tenha chegado a R$ 5.139,38, quase metade dos débitos é de valores até R$ 1 mil, geralmente relacionados ao consumo essencial. “É aquela conta pequena que se acumula, porque o custo de vida subiu e as famílias não têm mais colchão financeiro”, avalia Pioner. Quando conseguem quitar pendências, os gaúchos levam, em média, 10,2 meses, o que prolonga o impacto econômico de cada atraso.
 
O movimento ocorre em um Brasil que já registra 71,86 milhões de negativados - recorde histórico -, o equivalente a 43,14% da população adulta. Ainda assim, o encolhimento da recuperação de crédito no Estado é mais intenso: retração de 16,37% em um ano, pior do que as quedas regional e nacional. A consequência, explica o professor da Escola de Negócios da Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Gustavo Frio, é a exclusão financeira progressiva. “A reincidência alta mostra que as pessoas não apenas deixam de pagar. Elas perdem capacidade de voltar ao consumo. E sem consumo não há crescimento”, observa.
 
Frio destaca que características demográficas e conjunturais tornam o Estado mais vulnerável. “O Estado tem uma população mais idosa que a média, e aposentados, ao perder poder de compra, recorrem mais ao consignado. Quando a inflação aperta, sobra pouca margem para imprevistos”, explica.
 
Ele lembra ainda que os eventos climáticos extremos recentes, em especial a enchente histórica de maio do ano passado, impuseram novas despesas repentinas às famílias: “A enchente fez muita gente perder bens e renda. O cartão vira a saída imediata, mas é a dívida mais cara.”
 
A cultura do parcelamento sem juros, neste sentido, tem efeito colateral. “O ‘paga depois’ é tentador, até virar bola de neve”, avalia Frio. Pioner concorda: “O País vem há anos estimulando o consumo financiado. Governo, empresas e consumidores se endividam juntos. Só que a conta chega para todos".
 
Agora, com a proximidade do fim do ano, a tendência, conforme o presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, é que boa parte do 13º salário dos gaúchos seja destinada ao pagamento de dívidas antigas, reduzindo a margem para compras em festividades como o Natal.
 
"O cenário é preocupante. No varejo, a expectativa de consumo depende muito do tipo de produto: para itens de baixo custo, o consumo pode até acontecer, mas para produtos de maior valor agregado, onde o crédito é mais exigente, a inadimplência tende a ser mais forte", finaliza.
 
Fonte! Chasque (post) publicado no sítio oficial do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), por  Gabriel Margonar, em 13 de novembro de 2025https://www.jornaldocomercio.com/economia/2025/11/1223546-gauchos-acumulam-mais-dividas-do-que-a-media-nacional-aponta-estudo.html

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