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Quase 90% dos nomes negativados já estavam endividados há pelo menos 12 meses/RAWPIXEL.COM - FREEPIK.COM/DIVULGA??O/JC |
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O perfil do devedor gaúcho tampouco favorece a reversão rápida do quadro. Em setembro, 89,43% dos nomes negativados já estavam cadastrados há pelo menos 12 meses,
índice 18,04% maior do que um ano antes. A reincidência dominante
revela famílias com pouco espaço para reorganizar o orçamento e que, ao
falharem na tentativa de renegociar ou pagar parte das contas, voltam
com mais dívidas acumuladas.
Segundo Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Rio
Grande do Sul, isso reflete um cenário de renda comprimida e crédito
caro. “Enquanto o modelo for baseado em crédito com juros elevados, a
inadimplência tende a permanecer alta. Crédito não é poder de compra.
Poder de compra é renda e reserva”, afirma.
Ainda que a dívida média por consumidor tenha chegado a R$ 5.139,38,
quase metade dos débitos é de valores até R$ 1 mil, geralmente
relacionados ao consumo essencial. “É aquela conta pequena que se
acumula, porque o custo de vida subiu e as famílias não têm mais colchão
financeiro”, avalia Pioner. Quando conseguem quitar pendências, os
gaúchos levam, em média, 10,2 meses, o que prolonga o impacto econômico
de cada atraso.
O movimento ocorre em um Brasil que já registra 71,86 milhões de negativados
- recorde histórico -, o equivalente a 43,14% da população adulta.
Ainda assim, o encolhimento da recuperação de crédito no Estado é mais
intenso: retração de 16,37% em um ano, pior do que as quedas regional e
nacional. A consequência, explica o professor da Escola de Negócios da
Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Gustavo
Frio, é a exclusão financeira progressiva. “A reincidência alta mostra
que as pessoas não apenas deixam de pagar. Elas perdem capacidade de
voltar ao consumo. E sem consumo não há crescimento”, observa.
Frio destaca que características demográficas e conjunturais tornam o Estado mais vulnerável.
“O Estado tem uma população mais idosa que a média, e aposentados, ao
perder poder de compra, recorrem mais ao consignado. Quando a inflação
aperta, sobra pouca margem para imprevistos”, explica.
Ele lembra ainda que os eventos climáticos extremos recentes, em
especial a enchente histórica de maio do ano passado, impuseram novas
despesas repentinas às famílias: “A enchente fez muita gente perder bens
e renda. O cartão vira a saída imediata, mas é a dívida mais cara.”
A cultura do parcelamento sem juros, neste sentido, tem efeito colateral.
“O ‘paga depois’ é tentador, até virar bola de neve”, avalia Frio.
Pioner concorda: “O País vem há anos estimulando o consumo financiado.
Governo, empresas e consumidores se endividam juntos. Só que a conta
chega para todos".
Agora, com a proximidade do fim do ano, a tendência, conforme o
presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, é que boa parte
do 13º salário dos gaúchos seja destinada ao pagamento de dívidas
antigas, reduzindo a margem para compras em festividades como o Natal.
"O cenário é
preocupante. No varejo, a expectativa de consumo depende muito do tipo
de produto: para itens de baixo custo, o consumo pode até acontecer, mas
para produtos de maior valor agregado, onde o crédito é mais exigente, a
inadimplência tende a ser mais forte", finaliza.
Fonte! Chasque (post) publicado no sítio oficial do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), por Gabriel Margonar, em 13 de novembro de 2025: https://www.jornaldocomercio.com/economia/2025/11/1223546-gauchos-acumulam-mais-dividas-do-que-a-media-nacional-aponta-estudo.html

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