segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Corretoras zeram taxas de operações para deixar bolsa mais atrativa



Em mais um passo na disputa por pequenos investidores, corretoras independentes anunciaram há pouco que deixarão de cobrar taxas de corretagem para operações em bolsa. Com a decisão, elas levam para a renda variável a disputa de mercado já consolidada em investimentos de renda fixa - o mais visível é o Tesouro Direto, cuja isenção de tarifas em corretoras forçou grandes bancos a rever suas taxas.

Entre as casas que anunciaram a isenção da taxa de corretagem em Bolsa estão a Modalmais, corretora ligada ao Banco Modal, e a Clear, comprada pela XP em 2014. Ambas têm operações robustas e outras fontes de receitas que podem ajudar a minimizar a queda da arrecadação com corretagem.

Rodrigo Puga, diretor-executivo da Modalmais, explica que a adesão à corretagem zero é uma opção do cliente, que passaria a pagar um valor maior de mensalidade para usar a plataforma online de investimentos, que oscila entre R$ 20,00 e R$ 250,00 por mês, de acordo com o serviço contratado pelo investidor. Na prática, a corretora manteria sua receita mesmo oferecendo a isenção na corretagem.

Em seu site, a Clear informou inicialmente que suas receitas viriam do rendimento dos recursos parados na conta dos clientes (sistemática parecida com a que ocorre nos grandes bancos) e das multas cobradas de investidores que deixam saldo negativo na conta. A informação foi retirada do site no final da semana. Procurada, a corretora não quis comentar a decisão.

Especialistas em finanças explicam que a decisão replica o movimento iniciado com a isenção das taxas do Tesouro Direto. Com isso, elas abriam mão da receita inicial com a expectativa de que depois esse cliente passaria a investir em outros produtos, como CDBs (Certificado de Depósito Bancário), com os quais a corretora ganha uma diferença do rendimento oferecido pelo banco e efetivamente pago pelo cliente, ou então na renda variável. "O investidor abrir a conta é a parte mais difícil", diz William Eid Jr, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Até então, grandes bancos vinham ignorando a guerra tarifária das corretoras, apostando que a imagem de solidez e a praticidade de se investir no banco ajudaria a manter clientes. O cenário de juros baixos, com a Selic a 6,50% ao ano, forçou a mudança.

"Os bancos têm vantagens como grande número de clientes e volume financeiro. Muitos investidores acabavam acessando essas instituições pela comodidade de já serem clientes, mesmo que as taxas cobradas fossem bem mais caras. Sabendo disso, os bancos preferiam maximizar os resultados com tarifas, enquanto corretoras menores precisavam oferecer descontos para conseguir captar clientes", diz César Caselani, professor de finanças da FGV Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo).

O Bradesco puxou o movimento dos grandes bancos ao zerar em junho deste ano a taxa de custódia para investimento no Tesouro Direto. Foi seguido por Itaú, Santander e Banco do Brasil, que também deixaram de cobrar taxas de custódia para outros produtos de renda fixa, como CDBs. "Naturalmente, tem um pedaço dessa decisão que vem de observar o mercado, concorrência sempre é concorrência. Mas é também uma iniciativa dentro do pilar de atender o cliente no todo", diz Cassiano Scarpelli, vice-presidente do Bradesco.

No início de setembro, foi a vez do Itaú oferecer isenção na taxa de custódia do Tesouro e outros produtos de renda fixa para aplicações feitas por sua corretora. "O Tesouro pode ser o produto mais sofisticado de entrada para o cliente do varejo no universo dos investimentos. Mas, com a taxa básica de juros em nível baixo, o cliente começa a perceber que tarifas comem parte importante da sua rentabilidade. Já havia corretoras independentes fazendo isso [zerando taxas] e analisamos que fazia sentido", diz Claudio Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência do Itaú.

Gilberto Abreu, diretor de investimento do Santander Brasil, avalia que a competição é boa para o setor bancário. "O Tesouro é quase uma prestação de serviço, é o cliente que toma a decisão de compra. Do ponto de vista financeiro, é importante para o cliente [ter essa isenção] e, para a receita do banco, é bastante marginal", diz Abreu.

Marcelo Labuto, vice-presidente de negócios de varejo do Banco do Brasil, último dos grandes bancos a aderir às isenções, afirma que a ideia é conseguir consolidar mais transações dentro do banco. "Temos clientes que faziam aplicação no Tesouro sem ser por meio do banco, transferiam dinheiro para corretora por causa dessa questão do valor da tarifa. Com esse movimento, a ideia é que o cliente concentre cada vez mais seu patrimônio e seus recursos conosco", diz. Labuto também reconhece que o mercado está muito competitivo, mas diz não considerar isso ruim. "Força toda a indústria a se modernizar." 

Fonte! Chasque (matéria) veiculada no caderno Empresas e Negócios do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), edição do dia 08 de outubro de 2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário