Charge Espaço Vital / Gerson Kauer / Divulgação / JC |
O mesmo aplicativo (FaceApp), que, em 2019, encantou
pessoas com a experiência de verem seus rostos envelhecidos, está de
volta querendo mostrar - "grátis" - como os internautas seriam se fossem
de um gênero diferente. Em outras palavras: rostos masculinos serão
transformados em femininos - e vice-versa. O Espaço Vital ouviu, nesta
quinta-feira, o advogado gaúcho Gustavo Rocha, especialista em gestão,
tecnologia, marketing digital, robôs e afins. "É o mesmo aplicativo que
gerou debates, no ano passado, no mundo todo, por disponibilizar um
jeito de 'envelhecer as pessoas'. É que, simultaneamente, ele coletava
dados que vão muito além do nome, foto e dados de perfil do internauta",
relembra ele.
Espaço Vital - Como funciona?
Gustavo Rocha - O FaceApp coleta até as páginas
que o cidadão visitou no seu computador ou celular, entra no arquivo que
contém tudo que o internauta fez no seu dispositivo, inclusive nos
registros que foram apagados. O aplicativo exige outras permissões
surreais, para fazer a dita "brincadeira".
EV - O senhor confiaria numa proposta de brincadeira assim?
Rocha - Eu não! E não apenas por questões de
segurança, mas também porque sou chato em relação a dados e segurança na
internet. E ainda porque o mundo todo tem debatido a questão do
reconhecimento facial como ferramenta de segurança ou de controle
social.
EV - Explique...
Rocha - A IBM já parou de usar, a Microsoft e a
Amazon vêm na mesma linha de raciocínio de entender o monstro em que
pode se transformar o reconhecimento facial com a coleta de dados.
Podemos - sem saber - estar dando um imenso banco de dados para uma
empresa que pode vender estes detalhes para governos, outras empresas
etc.
EV - Alguma advertência a fazer?
Rocha - Sugiro que o cidadão pense no que pode ser
feito com seu rosto, para aprimorar a localização do mesmo por câmeras
de vigilância, radares de veículos, entre outros. Talvez um rastreamento
o tempo todo, em qualquer canto da cidade, fazer prova de locais onde a
pessoa esteve. Enfim, um "big brother" para quem apenas queria operar
uma brincadeira, sem saber que estava se inscrevendo num programa tão
profundo...
EV - Invasão da privacidade?
Rocha - Avalio que a nossa privacidade ficará
totalmente violada por um aplicativo que se diz gratuito, para uma
brincadeira tida como inocente. É caro demais o "preço grátis" desse
aplicativo! O preço dele equivale a eu abrir mão da minha liberdade. Eu
sempre relembro que "não existe almoço grátis". A frase é conhecida,
muita gente repete. Entretanto, quando falamos de internet, parece que
uma grande parte das pessoas esquece disto.
Fonte! Chasque (post) publicado na coluna Espaço Vital, por Marco Antônio Birnfeld, na edição dos dias 19, 20 e 21 de junho de 2020, do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS).
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