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Muita
gente diz que não consegue guardar dinheiro para formar a necessária reserva
financeira, que permite enfrentar emergências com tranquilidade e superar
períodos de renda menor ou até mesmo a falta dela. O argumento é que não sobra
nada depois de pagar o aluguel, os carnês e os itens essenciais, como
alimentação.
As mesmas
pessoas que não conseguem guardar dinheiro consomem, e conseguem pagar,
relativamente em dia, com parcelamento a perder de vista, assumindo o
compromisso de quitar parcelas que acreditam serão capazes de pagar.
A compra
de uma geladeira nova, por exemplo, só é possível se for parcelada. Não
interessa o valor total da compra, não se curvam ao argumento de que pagarão
duas ou três vezes o valor do produto.
Multiplicar
a quantidade de parcelas pelo valor de cada uma delas é uma operação matemática
simplesmente ignorada, não interessa, a informação não vai alterar a decisão de
compra.
Qual a
taxa de juros embutida no valor da parcela? Mais uma informação inútil que não
altera a decisão.
Certa
vez, perguntaram a uma senhora, prestes a adquirir uma lava-roupa em 24
parcelas, se ela tinha pensado na alternativa de poupar o dinheiro e comprar à
vista, pagando muito menos pela máquina. "O senhor nunca encarou um tanque
de roupa suja na vida, né?", respondeu a senhora.
A
lavadora de roupas custa parcelas mensais de R$ 150,00 e a libertará do tanque
de roupa suja. O tempo que ela despendia na árdua tarefa de lavar roupas será
usado na cozinha, com o prazeroso preparo de doces e salgados, cuja venda
proverá a renda extra necessária para pagar as parcelas. Quanto pagará de
juros, o preço final da máquina, não importa. A libertação do tanque a move e
custa apenas R$ 150,00 por mês.
Muitas
pessoas que aderem a consórcios e títulos de capitalização não ganham nada pelo
esforço do depósito parcelado e serão punidas se deixarem de pagar. Mas é
exatamente essa obrigação que representa para elas o mecanismo de
"guardar" dinheiro.
No caso
dos consórcios, o consumidor que desistir do contrato terá direito à devolução
dos valores pagos, descontadas as taxas e as multas previstas. E, na maioria
dos casos, deverá esperar a data final do contrato, meses ou anos, para a
devolução do dinheiro. Além disso, deixará de participar dos sorteios mensais,
a provável razão pela qual aderiu ao consórcio.
Nos
títulos de capitalização, existem períodos de carência que podem chegar a 24
meses, o que impede o resgate do valor depositado. A falta de pagamento da
parcela impõe algumas punições: suspensão do título, exclusão dos sorteios,
recebimento de parte do valor depositado depois de decorrido o período de
carência.
Essas
amarras e punições parecem funcionar para as pessoas com baixa disciplina que
não conseguem guardar dinheiro.
Fazem
isso porque são obrigadas. Além disso, a aversão a perda, de todo o valor
depositado ou parte dele, garante o pagamento das parcelas, muitas vezes, em
detrimento das reais prioridades do orçamento familiar. Para evitar perdas,
continuam pagando, reféns de produtos escolhidos para "guardar"
dinheiro.
Procure e
descubra a chave, o gatilho, que muda sua programação mental. Sonhe e faça
planos para realizar os sonhos, transformá-los em realidade. Encontre o
propósito que te move para poupar e seja recompensado pelo esforço.
Feliz
2019!
Fonte!
Chasque (texto) de Márcia Dessem (Planejadora financeira CFP ("Certified
Financial Planner"), autora de "Finanças Pessoais: O Que Fazer com
Meu Dinheiro"), publicado na edição do dia 31 de dezembro de 2018, do
Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS).
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