quarta-feira, 12 de maio de 2010

Muito cuidado com a guerra das corretoras

Com o forte interesse das pessoas físicas em aplicar em ações, as instituições oferecem facilidades que, muitas vezes, podem sair caro

Vera Batista - Correio Brasiliense - 09/05/2010

De olho no interesse cada vez maior dos investidores pelo mercado de ações, as corretoras de valores — únicas instituições autorizadas a operar direto no pregão da Bolsa de Valores — declararam guerra entre si na disputa pela clientela. E essa briga tem se concentrado na parte mais sensível do ser humano: o bolso. Vale tudo. O preço da corretagem (taxa cobrada quando se executa uma ordem de compra ou de venda) chega quase a zero.

Antes de pequeno porte, muitas corretoras, em pouco tempo, tornaram-se gigantes e estão liderando o ranking da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Elas abriram filiais nas principais capitais do país. Proliferaram os agentes autônomos, contratados aos montes para atender os clientes mais de perto, nos ponto mais remotos do Brasil. Mas que fique bem claro: em algumas situações, o barato pode sair caro.

Além dos tradicionais riscos do mercado acionário, do sobre e desce dos preços dos papéis, as instituições, muitas vezes, avançam todos os sinais para cumprir a promessa de lucro. E são justamente as que mais cresceram nos últimos anos as campeãs em reclamações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula e fiscaliza o mercado de capitais brasileiro.

Compromisso

Basta uma rápida pesquisa para se ter uma ideia de como está sendo facilitada a entrada de poupadores inexperientes na bolsa. O mercado oferece de tudo — até pacotes pré-pagos de corretagem. Mas é aí que mora o perigo. Facilidade demais sempre é sinônimo de prejuízo. A oferta de serviço pode não ser acompanhada de um profissional capacitado para explicar os meandros da bolsa e deixar claros todos os perigos que envolvem investimentos de renda variável. Em períodos de crise, como o atual, em que problemas na Grécia estão provocando terremotos mundo afora, um bom consultor faz a diferença.

Esse alerta vale, sobretudo, quando o negócio é fechado por meio de agentes autônomos, pois, muitas vezes, eles estão mais interessados em garantir os ganhos das corretoras para as quais trabalham do que para os clientes. Por isso, a CVM decidiu apertar o cerco em torno desses profissionais. Uma discussão pública foi aberta e as sugestões recebidas garantirão regras mais rígidas.

“O que se percebeu foi que o agente autônomo, quando distante da Bolsa de Valores, age como se fosse dono do cliente. Ou seja, decide por ele. Mas o agente tem a função de distribuir produtos. Não está habilitado e não pode administrar carteira de ações, devido ao conflito de interesses”, alerta Otávio Yazbek, diretor da CVM(1).

Para ele, ao agir fora dos padrões, os agentes acabam incorrendo em conflito de interesse, com a corda sempre arrebentando do lado mais fraco, o do investidor. “Por isso, estamos exigindo compromisso de todos, das corretoras e dos autônomos. Queremos que as instituições treinem e controlem seus contratados. Às vezes, quando acontece um problema, o cliente não sabe a quem responsabilizar. Fica um jogo de empurra entre a instituição e o agente”, complementa.

Proteção

A fiscalização dos autônomos é simples, garante Yazbek: basta que as corretoras comecem a observar o perfil de cada um de seus clientes, se um jovem, um aposentado, um juiz e um jogador de futebol. Com certeza, nenhum deles atuará da mesma forma. Na visão do diretor da CVM, se todos têm carteiras de ações semelhantes, algo está errado. Segundo Yazbek, a partir do momento em que a CVM editar as novas normas para os agentes autônomos, é possível que aumente o custo de operação para as corretoras. Mas, a seu ver, o ganho na proteção do cliente não tem preço.

Ele ressalta, porém, que, independentemente de toda a legislação em vigor, os investidores de primeira viagem devem fazer uma pesquisa nos sites da Comissão (http://www.cvm.gov.br/) e da BM&Bovespa (http://www.bmfbovespa.com.br/) e verificar o número de reclamações contra a corretora selecionada e acompanhar de perto o uso do seu dinheiro. “O investidor tem que ter capacidade de decisão. Não se deve esquecer nunca que o mercado de ações envolve risco. A opção pelo comodismo pode ser catastrófica”, diz Yasbek.

1 - Regulação

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão vinculado ao Ministério da Fazenda que regula o mercado de capitais para assegurar o funcionamento eficiente da Bolsa de Valores e outras instituições. Entre suas funções, estão a de proteger os titulares de ações contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e controladores de empresas com capital aberto, coibir fraudes ou manipulações destinadas a criar condições artificiais nas negociações e garantir aos negociantes o acesso a informações claras sobre os títulos.

Garantia de segurança

Algumas corretoras, a maioria administrada por jovens executivos, já estão se preparando para as mudanças impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em relação aos agentes autônomos. Uma delas é a TOV, que ganhou 25 posições no ranking da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&Fbovespa) no último ano, subindo para o 9° lugar. A instituição cobra R$ 5 por ordem de compra e venda e ainda dá desconto para aposentados — R$ 2,50 por operação. A TOV tem 40 filiais espalhadas por 13 capitais (a sede está em São Paulo). Recentemente, deu início ao processo de internacionalização. E, até o fim do ano, poderá receber autorização para operar na Bolsa de Nova York. “As negociações estão avançadas. Depende apenas do processo seletivo da SEC (a CVM americana)”, afirma André Jorge, gerente de canais eletrônicos. Ele conta que a empresa começou a atividade na década de 1980, operando câmbio. Em 2002, entrou para a renda variável.

Jorge garante que todas as regras da CVM são cumpridas à risca. “A TOV é a única corretora no Brasil que tem quase toda a sua base de assessores em filiais e não em escritórios independentes. Neste ano, investimos R$ 5 milhões em tecnologia”, afirma. Foi implantada uma nova plataforma eletrônica, a TOV Trader, ferramenta que permite ao cliente comprar e vender ações, com menor risco e maior retorno. “Vamos cobrar R$ 70 pela plataforma contra R$ 220 do mercado”, ressalta.

Educação

A XP Investimentos está no topo do ranking da Bovespa, com 450 funcionários e 130 escritórios, distribuídos por 70 cidades. “Várias razões nos levaram ao sucesso”, diz Guilherme Benchimol, sócio-diretor da instituição. A primeira delas é a preocupação com a educação dos investidores. “Há 10 anos, trabalhava como agente autônomo, com um sócio e tinha uma ideia na cabeça. Quando visitava os clientes que o sócio indicava, em Porto Alegre, percebia que as pessoas queriam aprender. Assim, em vez das visitas em casa, passamos a fazer pequenas palestras. Ia à padaria, comprava suco, pão de queijo, jogava uma toalha branca na mesa e começava a trabalhar”, lembra.

O processo evoluiu e as palestras se transformaram em cursos pagos. “Já capacitamos mais de 200 mil pessoas”, orgulha-se Benchimol. A XP tem hoje dois planos:o Express, pela internet, no qual cobra R$ 14,90 por ordem, e o Private (a taxa é de 0,5% por transação). (VB)

Fonte! Chasque publicado no dia 9 de maio de 2010 no sítio (blog) Economia no Cotidiano - http://mainichiokane.blogspot.com/.

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