quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Tradicionalismo lembra a história e movimenta a economia no RS

Acampamento Farroupilha é somente um dos inúmeros eventos que impulsionam os negócios relacionados ao tradicionalismo no Estado / TÂNIA MEINERZ/JC

A tradição gaúcha, marcada por elementos como o chimarrão, a pilcha, o Cavalo Crioulo e o turismo histórico, vai muito além da preservação cultural: ela movimenta a economia do Rio Grande do Sul e reforça a identidade de um povo que se orgulha de suas origens e que, em 2025, comemora os 190 anos da Revolução Farroupilha. O tradicionalismo, organizado por meio dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), se tornou um dos pilares não só do folclore regional, mas também de um setor que gera emprego e renda, fomenta o turismo e impulsiona a produção local.
 
Um estudo realizado pela Feevale, em parceria com o Governo do Estado, revelou que o tradicionalismo movimentou, apenas em 2023, R$ 4,5 bilhões, em diferentes setores e manifestações culturais, representando uma força econômica relevante no Estado, com 0,70% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho. “Atividades ligadas ao tradicionalismo, como festas, danças, gastronomia e artesanato, consumo de erva-mate, de churrasco, os rodeios, a criação do Cavalo Crioulo, a moda, têm um impacto real no desenvolvimento econômico regional. Isso sugere que o apoio a essas atividades pode resultar em benefícios econômicos sustentáveis a longo prazo”, afirma o coordenador do estudo, economista e professor da Feevale, José Antônio Ribeiro de Moura. Entre as atividades vinculadas ao tradicionalismo que mais movimentaram a economia, conforme a pesquisa, estão rodeios (R$ 2 bilhões), festas (R$ 613,4 milhões), música (R$ 220 milhões), Cavalo Crioulo (R$ 1 bilhão), radiodifusão (R$ 2,3 milhões), projetos culturais (R$ 65,8 milhões), erva-mate (R$ 396 milhões), cutelaria (R$ 96 milhões) e churrasco (R$ 106,5 milhões). 
 
O professor chama a atenção para a contribuição dos rodeios e do cavalo crioulo, assim como das festas campeiras, para o crescimento da economia gaúcha. Somente em 2023, foram realizados 3.264 rodeios, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. “São 3,2 mil festas por ano, uma média impressionante de mais de 60 a cada fim de semana. Dessas, 9% são grandes eventos; 48%, médios; e 43%, pequenos, os quais geraram, somente com inscrições, R$ 980 milhões. Além disso, o investimento em rodeios, festas campeiras e torneios de tiro de laço foi de cerca de R$ 1,3 bilhão, totalizando um consumo de mais de R$ 2 bilhões”, detalhou.
 
Para Moura, a cultura do Rio Grande do Sul é rica e proporciona o desenvolvimento do Estado, além de mensurar a contribuição do segmento e o potencial de consumo para o PIB, de modo a contribuir para que as entidades tenham informações sobre a movimentação financeira de suas atividades, que podem auxiliar na captação de recursos, sejam públicos ou privados, para seus eventos e projetos. O estudo foi descontinuado em 2025, em função das enchentes que abalaram, de forma excepcional, os dados, com queda de 22% nos eventos como as festas campeiras, apenas para citar um exemplo. “Temos a intenção de reeditá-lo e ampliar o escopo, pois acreditamos que a influência do tradicionalismo na economia ultrapassa 1% do PIB. A dificuldade de mensurar objetivamente o impacto econômico da cadeia produtiva, tendo em vista o alto índice de informalidade (as estatísticas econômicas são frágeis, não captam o informal nem desdobram os dados por unidade da federação) e a incorporação dos dados por outros setores”, avalia Moura. 
 
Ao que tudo indica, os reflexos da enchente ficaram no passado, e a recuperação segue em franca expansão. Prova disso foi a 48ª Expointer que recebeu mais de 1 milhão de visitantes, o maior público da história do evento, e movimentou mais de R$ 4,4 bilhões em negócios. O impacto positivo da feira também se refletiu na economia local. Apenas o comércio instalado no Parque registrou faturamento superior a R$ 15,8 milhões, segundo levantamento da prefeitura de Esteio. Além disso, a taxa de ocupação hoteleira da região chegou a 83%. “O Estado do Rio Grande do Sul apresenta grande potencial de crescimento de seus produtos tradicionais, proporcionando desenvolvimento regional, uma vez que a maioria dos gaúchos continua bastante próximos às tradições, que vão além do churrasco, do chimarrão e das vestimentas, incluindo um senso de pertencimento”, acrescenta Moura.
 
O tradicionalismo no Rio Grande do Sul é rico e tem personalidade própria: ganha destaque especial no mês de setembro, principalmente por conta das comemorações da Semana Farroupilha, e a vida no campo e as tradições gaúchas são temas muito valorizados. Quanto o tradicionalismo movimenta anualmente no Estado, dá a capacidade, segundo o economista da Feevale, de planejar melhor as políticas públicas para o setor, além de buscar incentivos e fomento para essa cadeia produtiva que gera desenvolvimento e renda em cada município gaúcho. “O estudo contempla diversos benefícios e serve de base para políticas públicas de fomento às tradições, sendo um setor econômico e cultural extremamente importante, ligado à nossa identidade e ao nosso desenvolvimento. Como um gestor público vai propor uma política e dirigir recursos, transportar para o turismo, por exemplo”, diz Moura.
 
Para ele, discutir a relevância da tradição é fundamental para refletir sobre a relevância de manter práticas tradicionais em um cenário em que os modismos podem oferecer vantagens financeiras imediatas, especialmente quando a promessa de lucro fácil é irresistível. O estudo mostrou que o tradicionalismo une as pessoas em torno de interesses comuns, fortalecendo laços comunitários, condição vital para a resiliência das tradições, pois uma comunidade coesa é mais capaz de preservar e transmitir sua herança cultural. “Cabe destacar o grande interesse dos tradicionalistas em participar do estudo, devido à importância para novos projetos, abrir novos parceiros e trazer investimentos para o movimento”, acrescenta o estudioso.
 
O estudo foi coordenado pela Universidade Feevale, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), e contou com a participação das pastas do Turismo (Setur), da Cultura (Sedac) e da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
 
Essa foi a primeira pesquisa mostrando o tradicionalismo como um setor produtivo e que se dedicou ao mapeamento de eventos, como rodeios e festas, de itens culturais, como pilchas e alimentos. O estudo ocorreu de julho de 2023 a abril de 2024, com nove eixos categorizados e mensurados. O método de trabalho incluiu formulação de hipóteses, análise dos segmentos do tradicionalismo e definição de coleta de dados, entre outros instrumentos.
 
Fonte! Chasque (reportagem) de Ana Esteves, especial para o Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS). Reportagem especial do dia 18 de setembro de 2025: https://www.jornaldocomercio.com/especiais/semana-farroupilha/2025/09/1218426-tradicionalismo-reforca-a-tradicao-e-movimenta-a-economia.html

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário