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Acampamento Farroupilha é somente um dos inúmeros eventos que impulsionam os negócios relacionados ao tradicionalismo no Estado / TÂNIA MEINERZ/JC |
A tradição gaúcha, marcada por elementos como o
chimarrão, a pilcha, o Cavalo Crioulo e o turismo histórico, vai muito
além da preservação cultural: ela movimenta a economia do Rio Grande do
Sul e reforça a identidade de um povo que se orgulha de suas origens e
que, em 2025, comemora os 190 anos da Revolução Farroupilha. O
tradicionalismo, organizado por meio dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs),
se tornou um dos pilares não só do folclore regional, mas também de um
setor que gera emprego e renda, fomenta o turismo e impulsiona a
produção local.
Um estudo realizado pela Feevale, em parceria com o Governo do Estado, revelou que o tradicionalismo movimentou, apenas em 2023, R$ 4,5 bilhões,
em diferentes setores e manifestações culturais, representando uma
força econômica relevante no Estado, com 0,70% de participação no
Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho. “Atividades ligadas ao
tradicionalismo, como festas, danças, gastronomia e artesanato, consumo
de erva-mate, de churrasco, os rodeios, a criação do Cavalo Crioulo, a
moda, têm um impacto real no desenvolvimento econômico regional. Isso
sugere que o apoio a essas atividades pode resultar em benefícios
econômicos sustentáveis a longo prazo”, afirma o coordenador do estudo,
economista e professor da Feevale, José Antônio Ribeiro de Moura. Entre
as atividades vinculadas ao tradicionalismo que mais movimentaram a
economia, conforme a pesquisa, estão rodeios (R$ 2 bilhões), festas (R$ 613,4 milhões), música (R$ 220 milhões), Cavalo Crioulo (R$ 1 bilhão), radiodifusão (R$ 2,3 milhões), projetos culturais (R$ 65,8 milhões), erva-mate (R$ 396 milhões), cutelaria (R$ 96 milhões) e churrasco
(R$ 106,5 milhões).
O professor chama a atenção para a contribuição dos
rodeios e do cavalo crioulo, assim como das festas campeiras, para o
crescimento da economia gaúcha. Somente em 2023, foram realizados 3.264
rodeios, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. “São 3,2 mil
festas por ano, uma média impressionante de mais de 60 a cada fim de
semana. Dessas, 9% são grandes eventos; 48%, médios; e 43%, pequenos, os
quais geraram, somente com inscrições, R$ 980 milhões. Além disso, o
investimento em rodeios, festas campeiras e torneios de tiro de laço foi
de cerca de R$ 1,3 bilhão, totalizando um consumo de mais de R$ 2
bilhões”, detalhou.
Para Moura, a cultura do Rio Grande do Sul é rica e proporciona o desenvolvimento do Estado,
além de mensurar a contribuição do segmento e o potencial de consumo
para o PIB, de modo a contribuir para que as entidades tenham
informações sobre a movimentação financeira de suas atividades, que
podem auxiliar na captação de recursos, sejam públicos ou privados, para
seus eventos e projetos. O estudo foi descontinuado em 2025, em função
das enchentes que abalaram, de forma excepcional, os dados, com queda de 22% nos eventos como as festas campeiras,
apenas para citar um exemplo. “Temos a intenção de reeditá-lo e ampliar
o escopo, pois acreditamos que a influência do tradicionalismo na
economia ultrapassa 1% do PIB. A dificuldade de mensurar objetivamente o
impacto econômico da cadeia produtiva, tendo em vista o alto índice de
informalidade (as estatísticas econômicas são frágeis, não captam o
informal nem desdobram os dados por unidade da federação) e a
incorporação dos dados por outros setores”, avalia Moura.
Ao que tudo indica, os reflexos da enchente ficaram no passado, e a recuperação segue em franca expansão. Prova disso foi a 48ª Expointer que recebeu mais de 1 milhão de visitantes,
o maior público da história do evento, e movimentou mais de R$ 4,4
bilhões em negócios. O impacto positivo da feira também se refletiu na
economia local. Apenas o comércio instalado no Parque registrou
faturamento superior a R$ 15,8 milhões, segundo levantamento da
prefeitura de Esteio. Além disso, a taxa de ocupação hoteleira da região
chegou a 83%. “O Estado do Rio Grande do Sul apresenta grande potencial
de crescimento de seus produtos tradicionais, proporcionando
desenvolvimento regional, uma vez que a maioria dos gaúchos continua
bastante próximos às tradições, que vão além do churrasco, do chimarrão e
das vestimentas, incluindo um senso de pertencimento”, acrescenta
Moura.
O tradicionalismo no Rio Grande do Sul é rico e tem personalidade
própria: ganha destaque especial no mês de setembro, principalmente por
conta das comemorações da Semana Farroupilha, e a vida no campo e as tradições gaúchas
são temas muito valorizados. Quanto o tradicionalismo movimenta
anualmente no Estado, dá a capacidade, segundo o economista da Feevale,
de planejar melhor as políticas públicas para o setor, além de buscar
incentivos e fomento para essa cadeia produtiva que gera desenvolvimento
e renda em cada município gaúcho. “O estudo contempla diversos
benefícios e serve de base para políticas públicas de fomento às
tradições, sendo um setor econômico e cultural extremamente importante,
ligado à nossa identidade e ao nosso desenvolvimento.
Como um gestor público vai propor uma política e dirigir recursos,
transportar para o turismo, por exemplo”, diz Moura.
Para ele, discutir a relevância da tradição é fundamental para refletir sobre a relevância de manter práticas tradicionais em um cenário em que os modismos podem oferecer vantagens financeiras imediatas,
especialmente quando a promessa de lucro fácil é irresistível. O estudo
mostrou que o tradicionalismo une as pessoas em torno de interesses
comuns, fortalecendo laços comunitários, condição vital para a
resiliência das tradições, pois uma comunidade coesa é mais capaz de
preservar e transmitir sua herança cultural. “Cabe destacar o grande
interesse dos tradicionalistas em participar do estudo, devido à
importância para novos projetos, abrir novos parceiros e trazer
investimentos para o movimento”, acrescenta o estudioso.
O estudo foi coordenado pela Universidade Feevale, em parceria com a
Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), e contou com a
participação das pastas do Turismo (Setur), da Cultura (Sedac) e da
Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).
Essa foi a primeira pesquisa mostrando o tradicionalismo como um setor produtivo
e que se dedicou ao mapeamento de eventos, como rodeios e festas, de
itens culturais, como pilchas e alimentos. O estudo ocorreu de julho de
2023 a abril de 2024, com nove eixos categorizados e mensurados. O
método de trabalho incluiu formulação de hipóteses, análise dos
segmentos do tradicionalismo e definição de coleta de dados, entre
outros instrumentos.
Fonte! Chasque (reportagem) de Ana Esteves, especial para o Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS). Reportagem especial do dia 18 de setembro de 2025: https://www.jornaldocomercio.com/especiais/semana-farroupilha/2025/09/1218426-tradicionalismo-reforca-a-tradicao-e-movimenta-a-economia.html
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