Finanças pessoais dizem muito mais respeito às pessoas do que às finanças
Em momentos como o que estamos vivendo, é muito complicado falar de
ganhos e perdas em investimentos, insistir na necessidade de poupar
para o futuro, recomendar que dívidas sejam evitadas.
Embora corretos, parecem temas absolutamente inadequados, pequenos,
agora que estamos todos preocupados em preservar vidas, a nossa e a de
todos. Fica evidente que tudo o que abrange e impacta as finanças
pessoais diz muito mais respeito às pessoas do que às finanças.
Vamos aproveitar a oportunidade e refletir se estamos colocando
foco em quem, de fato, importa, as pessoas, seus sonhos, suas
necessidades, reduzindo a importância do dinheiro em si e do que ele é
capaz de comprar. Pensar mais em ser do que em ter.
Tendo isso em mente, trago uma provocação para reavaliarmos as
relações comerciais, em particular as que envolvem decisões de
investimento. Produtos financeiros são meros instrumentos, são meios,
caminhos para chegar a algum lugar, se e quando bem selecionados, para
atingir as metas, as necessidades das pessoas.
Quando alguém tem dinheiro para investir, a tendência é a de que,
aos olhos do assessor de investimento, ele seja apenas um "investidor"
com certa quantidade de dinheiro para investir e, depois de cumprido o
procedimento de identificar o perfil de risco, segue a recomendação de
produto A, B ou C.
A expectativa do investidor, por sua vez, é a de que a orientação
do assessor, especialista que oferece o produto, será confiável e
assertiva, adequada para atingir seus objetivos, respeitados seus
limites e restrições.
O investidor deve observar se o assessor coloca foco na sua pessoa,
em quem ele é, no que ele precisa, e não no seu dinheiro. Se perguntas
não forem feitas nesse sentido, se o produto em si merece mais atenção
do que o investidor, evite, alguma coisa está errada. É bem provável que
o assessor esteja olhando para o dinheiro a ser investido, e não para a
pessoa, a quem o dinheiro pertence.
O assessor que conhece determinado mercado e distribui produtos de
investimento será bem-sucedido se perceber que o investidor importa
muito mais do que o fechamento de uma operação de investimento.
Ao assessor recomendo que não exalte o produto, aquele que lhe
parece o melhor, o que lhe pagará a maior comissão ou o produto da
campanha de vendas do mês. Não pule a etapa de ouvir primeiro a pessoa,
colocar-se no lugar dela, entender com clareza aquilo de que ela
precisa, o que pensa, o que teme, o que espera.
A oportunidade para o investidor é aprender a conectar o produto
com seus anseios, entender que não existe o melhor investimento, que nem
sempre o produto da moda ou o mais rentável é o mais adequado.
Aprender a fazer perguntas, a investigar aspectos que nem sempre
constam do discurso de venda, entender quais os riscos, os tais
imprevistos, muitas vezes omitidos.
Investidor, entenda que o valor do seu dinheiro vai muito além da
quantidade de moeda que você tem. Saiba refletir se o produto vai
proporcionar os benefícios que você procura, se representa solução, e
não um problema na sua vida.
Aos que assim já procedem, mantenham e aprimorem esse cuidado. Aos
demais, uma oportunidade de valorizar as pessoas, o que elas são, e não o
que elas têm. Não atribuam ao dinheiro importância demais, o valor não
está nele, mas no que ele é capaz de fazer pelas pessoas.
Fonte! Chasque (post) de Márcia Dessen, publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), na edição dos dias 20 e 21 de abril de 2020, na sua coluna semanal "Opinião Econômica".
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