Só põe o lucro no bolso o investidor que vender o título agora, antes do vencimento
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Há alguns meses, quando comprou uma
NTN-B com remuneração de IPCA + juros de 6% ao ano, José estava satisfeito e
disposto a levar o título até o vencimento, 2035.
Foi surpreendido pela valorização inesperada e surpreendente e está em busca de respostas para algumas perguntas.
A Nota do Tesouro Nacional série B Principal (ou Tesouro IPCA+)
com vencimento em 2035 acumulava em 30/07, rentabilidade bruta de 28,77% no ano
e 48,15% em 12 meses. A NTN-B mais longa, 2045, acumula incríveis 46,23% e
79,75% no mesmo período.
Quem ganha essa rentabilidade generosa, capaz de causar inveja
aos que investem em ações? Ganha quem vender agora, antes do vencimento, os
títulos comprados meses atrás.
Por que o valor dos títulos subiu tanto? Essa valorização
espetacular é fruto da queda na taxa de juros de longo prazo. A taxa Selic que
ficou estável por 18 meses em 6,50% ao ano, não tem nada a ver com isso. Ela
remunera o título Tesouro Selic que proporcionou rentabilidade de 3,62% e
6,36%, respectivamente, nos mesmos períodos citados acima.
A taxa que caiu foi a de longo prazo, atribuída às operações de
empréstimos ao Tesouro Nacional de prazos bem mais longos, como as NTN séries B
e F.
O valor dos títulos de taxa prefixada, como as NTN-F, ou com um
componente de taxa prefixada, como a NTN-B, flutua em razão da oscilação na
taxa de juros de longo prazo. A relação entre a taxa de juros de mercado para
determinado vencimento e o preço do título é inversamente proporcional. Quando
a taxa de juros cai, o valor do título sobe.
Se a taxa de juros cai, como aconteceu nesse período, o título se valoriza. No caso da venda antecipada, o título será descontado por uma taxa de juros inferior ao de compra, proporcionando um ganho potencial ao investidor. Digo potencial porque o ganho só será realizado se o investidor vender o título agora.
Vou continuar ganhando, pergunta José? Pouco provável, não no
ritmo desse passado recente. A taxa já caiu cerca de 3 pontos percentuais nesse
período e se encontra agora no patamar de 3,5% ao ano acima do IPCA. Pode cair
um pouco mais, mas não há espaço para repetir o desempenho espetacular.
É pra comprar agora? Quem chegou tarde nessa festa vai ter que
correr um pouco mais de risco para tentar abocanhar um bom ganho. Os que
acreditam que os juros de longo prazo podem cair um pouco mais, podem comprar
os títulos mais longos, vencimento 2045 ou 2050. Como o prazo potencializa a
variação dos juros, mesmo uma queda pequena, de 0,5 ponto percentual, por
exemplo, será capaz de gerar bom resultado.
Posso perder? Sim! Estamos aqui celebrando os ganhos porque os
juros caíram. Se tivessem subido, estaríamos lamentando a desvalorização dos
títulos e os investidores estariam quebrando a cabeça para entender porque
perderam dinheiro em renda fixa. Falta muito tempo até o vencimento e muita
coisa pode acontecer. E a oscilação dos preços, positiva e negativa, será um
reflexo direto da alterações no cenário macroeconômico.
E os fundos do tipo IMA-B? José investe em um fundo que, segundo
ele, está rendendo 20% ao ano e pergunta se vai continuar rendendo. Importante
dizer que o fundo não está rendendo; o fundo rendeu 20% no ano, verbo no tempo
passado. Para ganhar essa rentabilidade, José precisa resgatar as cotas do
fundo, mesmo raciocínio da venda antecipada das NTN-B.
E aí a pergunta que fica é: vender e fazer o que com o dinheiro?
Essa conversa fica para a próxima semana.
Fonte! Buscamos este chasque nas páginas do Jornal do Comércio
de Porto Alegre/RS, edição do dia 05 de agosto de 2019, de autoria da
planejadora financeira Márcia Dessen.
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