Empresas distribuidoras de energia estão cobrando atendimento de normais mais rígidas
Exigências encarecem processo e inibem evolução da geração distribuída
/VOLTAICO/DUPONT/DIVULGAÇÃO/JC |
Um segmento que está em franca
expansão no Brasil começa a enfrentar obstáculos para o seu desenvolvimento.
Além da discussão sobre mudanças do aproveitamento de seus créditos para abater
da conta de luz, que já estava em andamento, a geração distribuída (produção de
eletricidade para satisfazer o consumo próprio, normalmente feita através de
painéis fotovoltaicos) tem agora outra dificuldade pela frente.
Várias distribuidoras do País, entre
as quais a gaúcha RGE, estão exigindo mais medidas e equipamentos de segurança
para a conexão dos sistemas de geração distribuída na rede elétrica, o que tem
encarecido o processo (às vezes chegando mais que triplicar o custo). O
presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos
Evangelista, confirma que muitas concessionárias estão fazendo pedidos de novos
equipamentos de proteção, muitas vezes redundantes, solicitando fotos de micro
inversores e seus respectivos números (nesse caso, cada placa tem um micro
inversor e a tarefa de fotografar cada um torna-se gigantesca), comprovação na
Receita Federal de que o local é um estabelecimento comercial, exigência de
versões impressas do projeto, inventário do poste de conexão, entre outras.
"A maioria das exigências são descabidas, sem utilidade e apenas encarecem
e dificultam o procedimento de conexão" julga Evangelista.
O dirigente defende que é preciso
procurar o equilíbrio. Conforme o presidente da ABGD, essa situação inibe o
crescimento do mercado de geração distribuída como um todo. Evangelista diz que
não é raro um investidor desistir de fazer a conexão porque "já ouviu
dizer" que o processo é complicado e poderá ser barrado pela
distribuidora, causando prejuízos. O dirigente admite que o setor tem evoluído
a taxas altas, porém argumenta que isso acontece, em parte, porque a base ainda
é pequena.
Ele informa que na Austrália a cada
cinco consumidores, um pratica a geração distribuída. No Brasil, de um universo
de 83 milhões de consumidores em baixa tensão, apenas 93 mil (0, 11%) seguem
essa ação. O presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar
Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, informa que a entidade já teve reuniões
específicas com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre o tema e
protocolou um ofício solicitando providências quanto ao assunto. O documento
conta com pareceres jurídicos e técnicos que, conforme o dirigente, explicam
porque a Absolar considerou como unilaterais e demasiadas as alterações
adotadas por parte de algumas distribuidoras.
"Houve uma decisão, de mudança
da norma técnica, que não foi comunicada com antecedência para o setor",
lamenta. De acordo com Sauaia, esse ambiente está criando uma barreira técnica
e econômica prejudicial ao desenvolvimento da geração distribuída no Brasil. Um
pedido feito pela Absolar à Aneel é que seja estabelecido um prazo de transição
antes da entrada em vigor de qualquer alteração técnica das distribuidoras para
a geração distribuída. Além disso, que essas mudanças afetem apenas novos
pedidos de conexão.
Abradee defende manutenção da qualidade dos serviços
Se por um lado os instaladores de sistemas fotovoltaicos estão
reclamando da mudança das regras, por outro as concessionárias afirmam que é
uma condição necessária para não prejudicar a qualidade no abastecimento de energia
para os consumidores. O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores
de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Aurélio Madureira da Silva, argumenta que
a conexão da geração distribuída na rede elétrica não representa uma carga
normal. O dirigente ressalta que é uma fonte com características específicas,
com determinados horários para a produção de eletricidade.
"O que as distribuidoras buscam é que a conexão da geração
distribuída não traga nenhuma condição de piorar os serviços para os consumidores
que já estão sendo atendidos", sustenta o presidente da Abradee. Para
cumprir esse objetivo, o dirigente afirma que são necessárias algumas medidas,
entre as quais a adequação da proteção da rede elétrica. Silva ressalta que
houve um crescimento muito grande da geração distribuída e, em alguns locais,
ocorreram impactos maiores para a infraestrutura de algumas concessionárias.
Ele acrescenta que todas essas questões regulatórias passam por análises da
Aneel.
"O que as
distribuidoras buscam é que a conexão da geração distribuída não traga nenhuma
condição de piorar os serviços para os consumidores que já estão sendo
atendidos", sustenta o presidente da Abradee. Para cumprir esse objetivo,
o dirigente afirma que são necessárias algumas medidas, entre as quais a
adequação da proteção da rede elétrica. Silva ressalta que houve um crescimento
muito grande da geração distribuída e, em alguns locais, ocorreram impactos
maiores para a infraestrutura de algumas concessionárias. Ele acrescenta que
todas essas questões regulatórias passam por análises da Aneel.
RGE aumenta exigências a partir de projetos de 75 kW de capacidade
As distribuidoras da CPFL estão entre as empresas que alteraram suas
regras internas para a conexão de projetos de geração distribuída em suas
redes. Essa medida também incluiu a sua controlada gaúcha RGE, que abrange
cerca de dois terços da distribuição de energia no Estado.
Recentemente, a companhia determinou que os empreendimentos acima de 75
kW de potência terão que fazer o procedimento de conexão igual ao que é
requisitado para sistemas de 300 kW.
O advogado da Souza Berger Advogados e especialista na área de energia,
Frederico Boschin, destaca que, até a entrada maciça da geração distribuída, a
partir de 2016 e 2017, nenhuma distribuidora havia feito mudanças em suas
regras de segurança. Porém, de um tempo para cá, algumas concessionárias
começaram a se atentar para alguns detalhes de segurança. Boschin comenta que
estudos técnicos apontam que sistemas de 75 kW podem ter funções de proteção
com equipamentos mais baratos, pois não se trata de muita energia sendo
injetada na rede. O advogado informa que, com as mudanças nas normas, um
empreendimento de 75 kW, orçado em cerca de R$ 200 mil, pode ter metade do
custo do projeto em equipamentos de proteção. "Nessa faixa (de potência),
eles transformaram o negócio em praticamente inviável", enfatiza. O CEO da
Energias da Natureza (empresa que comercializa projetos de energia solar),
André Heck, atesta que as novas regras frearam o setor, em particular na área
da RGE, dentro do Rio Grande do Sul. O executivo considera que não havia
necessidade da alteração e salienta que alguns projetos de R$ 30 mil saltaram
para R$ 130 mil. Há boatos no mercado que apontam que as distribuidoras, com a
medida, estão tentando vetar a entrada da energia oriunda da geração
distribuída e fortalecendo suas redes com base em investimentos feitos por
terceiros. Em nota, a RGE informa que "cabe à distribuidora definir os
parâmetros de proteção para os seus sistemas elétricos. Com a evolução e
aprendizado dos últimos anos, as distribuidoras do grupo CPFL identificaram a
necessidade de adequar os seus parâmetros de proteção para garantir a
confiabilidade do fornecimento de energia, a segurança da população e dos seus
profissionais que atuam na rede de distribuição.
Fonte! Chasque (reportagem) publicado nas páginas do Jornal do Comércio
de Porto Alegre (RS), na edição do dia 12 de agosto de 2019, por Jefferson
Klein.
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