Percentual
se somaria à alíquota de 8% a 11% já descontada
hoje nos contracheques /MARCO QUINTANA/JC
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O regime
de capitalização que o governo pretende instituir com a reforma da Previdência
pode obrigar os trabalhadores do setor privado a terem de fazer um recolhimento
adicional entre 21% e 32% sobre seus rendimentos para poderem receber um
salário mais alto na aposentadoria. Esse percentual se somaria à alíquota já
descontada hoje no contracheque dos trabalhadores (que varia entre 8% e 11%).
Pelas
propostas em discussão, o novo regime - no qual o trabalhador contribui para
uma conta individual que financiará sua aposentadoria no futuro - valeria
apenas para a classe média (quem ganha acima do teto do Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS -, hoje, em R$ 5.845,00) e somente para os mais jovens. Um
dos modelos de capitalização estudados pelo governo prevê que só atingiria os
nascidos a partir de 2014.
Segundo
estudo dos economistas Fabio Giambiagi, do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (Bndes), e Luís Eduardo Afonso, da Universidade de São Paulo
(USP), a definição de uma alíquota que permita uma renda razoável aos
trabalhadores na capitalização é um desafio, considerando que a tendência é de
queda na taxa de juros. Quanto mais baixo for o rendimento das aplicações, mais
alta precisa ser a alíquota de contribuição, ou mais tempo será preciso contribuir
para o trabalhador manter o poder de compra quando se aposentar.
Para se
ter uma ideia, um trabalhador que ganha R$ 16 mil teria que descontar R$ 3,2
mil, e não apenas R$ 1,2 mil. Essa simulação considera uma pessoa que entra no
mercado de trabalho aos 20 anos de idade, contribui durante 35 anos, se
aposenta aos 55 anos e receberá a aposentadoria complementar até os 85 anos de
idade. Foram aplicados nessa conta uma taxa de juros real de longo prazo de 4%
a 5% e um crescimento real de salário na faixa de 1% e 1,5% ao ano.
Segundo
Giambiagi, o objetivo do estudo é contribuir para o debate e alertar as pessoas
para a trajetória de queda nos juros. Ele destacou que, com juro real de 6%, é
possível fixar uma alíquota de contribuição de 12%. No entanto, se os juros
baixam para 4%, por exemplo, é preciso dobrar o percentual.
De acordo
com Giambiagi, a introdução da capitalização como alternativa ao modelo vigente
no Brasil, de repartição, em que as contribuições dos trabalhadores ativos vão
para um bolo que é dividido com todos os aposentados, deve ser feita com
cautela. Na avaliação dele, o ideal é que o novo modelo valha apenas para quem
ganha salários mais altos.
Para o
economista, os brasileiros estão acostumados a conviver com juros elevados - o
que ajuda na poupança. Em um cenário de juro mais baixo, o esforço precisará
ser maior, e a alíquota terá que ser elevada se o trabalhador quiser ter
direito ao último salário da carreira. Ou então passar mais tempo contribuindo.
"O País precisa se preparar para um cenário de juros baixos, e, nesse
caso, todos teremos que poupar mais se aspirarmos a uma boa
aposentadoria", destacou Giambiagi.
O estudo
parte do princípio que apenas os trabalhadores arcarão com o regime de
capitalização. Mas a equipe econômica também avalia a possibilidade de dividir
a conta com os empregadores, que contribuiriam com uma alíquota sobre o salário
dos funcionários no novo modelo. Atualmente, os patrões já arcam com 20% sobre
a folha para a Previdência. Também estão em análise fontes complementares, como
o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Outra diferença em
relação ao estudo de Giambiagi é que a idade mínima para aposentadoria deve ser
mais alta, e não apenas de 55 anos.
Uma das
preocupações é evitar o que aconteceu no Chile, onde o regime de capitalização
foi implementado com contribuição dos trabalhadores somente. Anos depois, o
rendimento decorrente das aplicações acabou insuficiente, obrigando o governo a
buscar alternativas para melhorar a renda das famílias.
Fonte! Chasque publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, edição do dia 04 de fevereiro de 2019.
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