sexta-feira, 25 de maio de 2018

Mais velhos e endinheirados

Créditos! Freepik / Divulgação / JC
FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC - Jornal do Comércio (http://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2018/05/cadernos/empresas_e_negocios/627106-mais-velhos-e-endinheirados.html)
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Eles já são mais de 30 milhões, têm a maior renda mensal entre todas as faixa etárias do País, R$ 2.815,00 contra a média geral de R$ 2.080,00, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso, brasileiros com 60 anos ou mais se sentem excluídos ou maltratados pelo mercado. Segundo especialistas, a falta de adequação de produtos e serviços para esse público é fruto de desconhecimento e preconceito.

Estudo realizado com os cinco maiores institutos de pesquisa do País, feito pela publicitária Ana Gabriela Sturzenegger Michelin, mestre em gerontologia social pela PUC-SP, revela que nenhum deles ouve a opinião de quem tem mais de 55 anos. "E não há previsão de revisão dessa prática. Ao conversar com gestores de grandes empresas de diferentes áreas, como telecomunicações, alimento, beleza e turismo, eles admitem que há poucos projetos voltados para esse público. As empresas desconhecem todo o capital dessa faixa etária e muitas ignoram até a inversão etária que o Brasil vai sofrer nos próximos anos", diz.

Entre 2012 e 2017, a fatia da população brasileira com mais de 60 anos cresceu cerca de 15%. O incremento da parcela com mais de 80 anos foi ainda maior, 21%. O médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC Br), afirma que os brasileiros com 50 anos ou mais concentram, hoje, cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB), o que corresponde a R$ 1,6 trilhão. "São pessoas com poder de compra e de influência imensas, mas que são ignoradas por puro preconceito. Em 2050, o Brasil vai ser uma grande Copacabana, com cerca de 30% de idosos. As empresas que quiserem fazer dinheiro têm que atrair os idosos. Serviço, tecnologia e design têm que responder ao envelhecimento da população. O atendimento hoje discrimina."

Para Antonio Carlos Pipponzi, presidente do Conselho do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) e do Conselho de Administração do grupo RaiaDrogasil, as farmácias saíram na frente quando se fala em adequação do atendimento. Segundo ele, o setor hoje valoriza o relacionamento com o idoso. Tudo para fidelizá-lo. O varejo, de forma geral, admite, está focado no jovem. "O mercado é muito competitivo e, cada vez mais, o idoso é parte importante, naturalmente esse movimento de adaptação vai acontecer e vai para além de rampa de acesso e atendimento preferencial."

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também disse não desenvolver qualquer política setorial para atender às necessidades dos idosos. Para o caso de concessão de crédito, no entanto, a federação desenvolveu uma cartilha voltado para essa faixa etária. Com três milhões de clientes com mais de 60 anos, o Itaú diz ter desenvolvido um app simplificado com foco nas necessidades desse público. "Cuidamos desde a quantidade de palavras por tela até o fato de termos botões maiores para facilitar o toque. Nas agências, há pessoas para auxiliar esse público, inclusive para o uso da tecnologia", conta Wagner Sanches, diretor executivo do Itaú.

Cerca de 21% do total de correntistas do Banco do Brasil (BB) têm 60 anos ou mais, diz Rodrigo Vasconcelos, gerente executivo da Diretoria de Clientes Pessoa Física do Banco do Brasil. "Hoje, um dos maiores desafios do BB é oferecer o melhor atendimento nos seus diferentes canais. A presença física continua importante, principalmente, para esse público da melhor idade. Atualmente, do total de clientes com mais de 60 anos, cerca de 15% podem ser considerados como digitais", explica.

A Caixa também identifica as agências com atendimento prioritário para os idosos e acrescenta que há orientação para que o cliente entenda a segurança das transações remotas. Já o Bradesco informa que cerca de 82% dos dez mil beneficiários do INSS da sua base de clientes usam autoatendimento, app e Internet Banking.

 Apple e Samsung, empresas que trabalham com produtos de alta tecnologia, desafiadores para os idosos, foram procuradas, mas não se pronunciaram. O SindiTelebrasil, que representa as operadoras de telefonia, também disse que não há uma discussão setorial sobre os idosos. Entre as operadoras, só a Vivo respondeu. Diante do crescimento significativo do mercado 60 anos ou mais, a empresa oferece, desde o fim do ano passado, um workshop para a terceira idade, que aborda de conceitos básicos de tecnologia.

Fonte! Chasque (matéria) publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), no seu caderno Empresas & Negócios, na edição do dia 21 de maio de 2018.

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