Eles já
são mais de 30 milhões, têm a maior renda mensal entre todas as faixa etárias
do País, R$ 2.815,00 contra a média geral de R$ 2.080,00, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso,
brasileiros com 60 anos ou mais se sentem excluídos ou maltratados pelo
mercado. Segundo especialistas, a falta de adequação de produtos e serviços
para esse público é fruto de desconhecimento e preconceito.
Estudo
realizado com os cinco maiores institutos de pesquisa do País, feito pela
publicitária Ana Gabriela Sturzenegger Michelin, mestre em gerontologia social
pela PUC-SP, revela que nenhum deles ouve a opinião de quem tem mais de 55
anos. "E não há previsão de revisão dessa prática. Ao conversar com
gestores de grandes empresas de diferentes áreas, como telecomunicações,
alimento, beleza e turismo, eles admitem que há poucos projetos voltados para
esse público. As empresas desconhecem todo o capital dessa faixa etária e
muitas ignoram até a inversão etária que o Brasil vai sofrer nos próximos
anos", diz.
Entre
2012 e 2017, a fatia da população brasileira com mais de 60 anos cresceu cerca
de 15%. O incremento da parcela com mais de 80 anos foi ainda maior, 21%. O
médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade
Brasil (ILC Br), afirma que os brasileiros com 50 anos ou mais concentram,
hoje, cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB), o que corresponde a R$ 1,6
trilhão. "São pessoas com poder de compra e de influência imensas, mas que
são ignoradas por puro preconceito. Em 2050, o Brasil vai ser uma grande
Copacabana, com cerca de 30% de idosos. As empresas que quiserem fazer dinheiro
têm que atrair os idosos. Serviço, tecnologia e design têm que responder ao
envelhecimento da população. O atendimento hoje discrimina."
Para
Antonio Carlos Pipponzi, presidente do Conselho do Instituto de Desenvolvimento
do Varejo (IDV) e do Conselho de Administração do grupo RaiaDrogasil, as
farmácias saíram na frente quando se fala em adequação do atendimento. Segundo
ele, o setor hoje valoriza o relacionamento com o idoso. Tudo para fidelizá-lo.
O varejo, de forma geral, admite, está focado no jovem. "O mercado é muito
competitivo e, cada vez mais, o idoso é parte importante, naturalmente esse
movimento de adaptação vai acontecer e vai para além de rampa de acesso e
atendimento preferencial."
A
Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também disse não desenvolver qualquer
política setorial para atender às necessidades dos idosos. Para o caso de
concessão de crédito, no entanto, a federação desenvolveu uma cartilha voltado
para essa faixa etária. Com três milhões de clientes com mais de 60 anos, o
Itaú diz ter desenvolvido um app simplificado com foco nas necessidades desse
público. "Cuidamos desde a quantidade de palavras por tela até o fato de
termos botões maiores para facilitar o toque. Nas agências, há pessoas para
auxiliar esse público, inclusive para o uso da tecnologia", conta Wagner
Sanches, diretor executivo do Itaú.
Cerca de
21% do total de correntistas do Banco do Brasil (BB) têm 60 anos ou mais, diz
Rodrigo Vasconcelos, gerente executivo da Diretoria de Clientes Pessoa Física
do Banco do Brasil. "Hoje, um dos maiores desafios do BB é oferecer o
melhor atendimento nos seus diferentes canais. A presença física continua
importante, principalmente, para esse público da melhor idade. Atualmente, do
total de clientes com mais de 60 anos, cerca de 15% podem ser considerados como
digitais", explica.
A Caixa
também identifica as agências com atendimento prioritário para os idosos e
acrescenta que há orientação para que o cliente entenda a segurança das
transações remotas. Já o Bradesco informa que cerca de 82% dos dez mil
beneficiários do INSS da sua base de clientes usam autoatendimento, app e
Internet Banking.
Apple e Samsung, empresas que trabalham com
produtos de alta tecnologia, desafiadores para os idosos, foram procuradas, mas
não se pronunciaram. O SindiTelebrasil, que representa as operadoras de
telefonia, também disse que não há uma discussão setorial sobre os idosos.
Entre as operadoras, só a Vivo respondeu. Diante do crescimento significativo
do mercado 60 anos ou mais, a empresa oferece, desde o fim do ano passado, um
workshop para a terceira idade, que aborda de conceitos básicos de tecnologia.
Fonte! Chasque (matéria) publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS), no seu caderno Empresas & Negócios, na edição do dia 21 de maio de 2018.
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