O que fazer quando seus filhos crescidos passam por problemas financeiros - e, no limite, voltam a morar com os pais
Os problemas financeiros dos filhos não podem prejudicar o futuro dos pais |
São Paulo – Após o estouro da bolha de crédito nos Estados Unidos, os americanos começaram a ver um movimento de volta para casa por parte dos filhos que perderam seus empregos ou boa parte da sua renda na crise subsequente. Aflitos, muitos desses pais se dispuseram a sacrificar as próprias economias para a aposentadoria para ajudar os rebentos com seus problemas financeiros.
Mas não é só em épocas de crise que isso pode ocorrer. Ninguém está livre de perder um emprego, ficar superendividado, ter um problema de saúde, uma crise profissional, um filho não planejado ou um divórcio complicado. Mas será que são os pais que devem pagar essa conta?
É verdade que ninguém quer ver os filhos passando necessidade; mas também é verdade que se endividar para ajudá-los ou mesmo sacrificar a sua poupança para a aposentadoria no futuro tampouco são decisões inteligentes. O risco é onerar seus filhos no futuro, quando a idade avançada aumentar as despesas com saúde e não houver mais uma fonte fixa de renda. Lembre-se de que seus filhos ainda têm tempo de recuperar as finanças e construir uma previdência confortável; quem está perto da aposentadoria, não.
A seguir, duas especialistas em educação financeira dão dicas sobre como ajudar o seu filho a não ficar acomodado e se restabelecer financeiramente sem sacrificar você mesmo as suas finanças.
1. Livre-se da culpa: é a primeira coisa a se fazer, pois é a culpa que leva muitos pais a passarem a mão na cabeça dos filhos. Ninguém quer ver os filhos sofrerem, mesmo quando eles já são adultos, e a tentação de querer resolver todos os seus problemas é grande. Em primeiro lugar, há problemas que simplesmente não é da sua alçada resolver – se você não pode empregar seu filho desempregado, ele mesmo terá que achar uma recolocação. Em segundo lugar, o melhor que pode acontecer com eles é aprender a caminhar com as próprias pernas, se reestruturar e ser independente, e não voltar para baixo da asa dos pais. Bens materiais e dinheiro não compensarão as faltas do passado.
2. Não reacostume seus filhos ao “paparico”: filhos adultos que voltam a morar com os pais podem voltar a se acostumar com a comidinha da mamãe e a roupa lavada. Não permita que isso aconteça, pois eles devem ser tratados como adultos. Faça com que eles dividam as tarefas domésticas e contribuam pelo menos para algumas despesas da casa.
3. Saiba dizer não e ponha as cartas na mesa: desde a educação financeira infantil até esses aprendizados forçados da vida adulta, a imposição de limites é fundamental para que a pessoa internalize que não vai ter tudo que deseja sem lutar. Não é proibido ajudar os filhos financeiramente, desde que o auxílio esteja dentro do seu orçamento e não comprometa o planejamento da sua aposentadoria. Deixe claro quanto você pode gastar e que a situação é provisória. Se preciso for, estabeleça um prazo para a permanência do seu filho na sua casa ou para a ajuda financeira.
4. Defina prioridades: dê ajuda financeira para questões fundamentais, como uma doença ou os primeiros gastos caso seu filho ou filha se depare com uma gravidez indesejada. Evite pagar o que não for urgente – como um curso para uma recolocação no mercado – ou pague apenas uma parte.
5. Prefira emprestar a doar: muitos filhos se sentem constrangidos por terem de voltar a depender de uma ajuda financeira dos pais, e se planejam para ressarci-los no futuro. Se isso não ocorrer por iniciativa do seu filho, estabeleça um planejamento para que ele possa pagá-lo de volta no futuro.
6. Jogue a bola para o seu filho: acolha seu filho, mas deixe claro que ele é o responsável por encontrar uma solução para os seus problemas. Coloque-se à disposição para refletir em conjunto, mas deixe claro que as decisões finais devem ser dele.
7. Dê orientação: ajude seus filhos a levantar prioridades e planejar como sair da situação difícil. Sugira caminhos. No caso de um filho desempregado, por exemplo, ajude-o a listar pontos fortes e fracos, buscar cursos que o requalifiquem e vagar menos óbvias para se recolocar no mercado.
8. Não tente reviver sua juventude: “Os pais devem compreender que o fato de a cria estar de volta a casa não vai torná-los mais jovens”, diz Cássia d'Aquino, especialista em educação financeira para crianças. É tentador reviver os bons e velhos tempos da juventude, com os filhos dependentes. Mas a verdade é que, com o avanço da idade, aumenta a necessidade de cuidar da saúde e, consequentemente, gastar mais com isso.
9. Não “jogue na cara” os erros do passado: Seja sereno. De nada vai ajudar chorar sobre o leite derramado ou provocar brigas porque seu filho foi irresponsável por este ou aquele motivo. Aproveite o momento para recuperar a educação financeira que talvez tenha faltado no passado.
10. Mantenha seu filho calmo: ressalte que o momento é transitório. Isso ao mesmo tempo o tirará da zona de conforto – pois ele precisa voltar a caminhar com as próprias pernas - e o tranquilizará por saber que o mau momento não durará para sempre.
Como prevenir
Realmente emergências financeiras podem acontecer a qualquer pessoa, mas muitas vezes elas são fruto de uma vida inteira de descontrole financeiro – é o caso do superendividamento. Quem tem filhos ainda pequenos ou adolescentes pode evitar isso investindo na educação financeira dos filhos desde cedo. “Educação financeira não é gasto, é investimento. Ela deve privilegiar o limite, para que a criança aprenda que não vai ter tudo que quer na hora em que deseja”, diz Celina Macedo, autora de um livro sobre o tema, voltado para pais e filhos.
A educadora Cássia d’Aquino ensina como incentivar seus filhos a serem responsáveis e tomarem suas próprias decisões desde pequenos.
- Não ofereça ajuda à criança antes que ela peça: se ela está tentando pegar algo embaixo da cama com dificuldade, observe, mas não a ajude sem que ela tenha pedido.
- Trate o aprendizado e as responsabilidades como coisas positivas: a cada aniversário, reveja o que a criança aprendeu no último ano – como fazer a cama, escovar os dentes, amarrar os sapatos – e estabeleça novas metas de aprendizado e responsabilidade para o novo ano que começa. Isso a ajuda a desenvolver autonomia e sentir prazer com isso.
- Pergunte como seu filho pretende resolver o problema: para adolescentes e adultos, o melhor é se mostrar compreensivo e em seguida jogar a bola para ele, sempre que um problema surgir. Isso deixa claro que a responsabilidade por resolver é dele, não sua.
Fonte! Chasque e retrato publicados no sítio do Portal Exame, no dia 23 de janeiro de 2011. Abra as porteiras clicando em http://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/aposentadoria/noticias/como-nao-deixar-seus-filhos-adultos-arruinarem-a-sua-aposentadoria?page=1&slug_name=como-nao-deixar-seus-filhos-adultos-arruinarem-a-sua-aposentadoria
Valdemar,
ResponderExcluirTudo, absolutamente tudo, que diga respeito à educação financeira deve ser lido e apreendido.
Mesmo que não consigamos aplicar tudo, principalmente quando falamos de filhos, o certo é que qualquer ajuda ou aplicar apenas uma pequena parte dos ensinamentos já pode representar nossa saúde financeira e, consequentemente, deles também, porque as pessoas tem que saber que na idade adulta devem buscar solução para seus próprios problemas.
Um grande abraço.
Bom Dia Ziula! Agradeço a tua visita aqui no sítio.
ResponderExcluirO ano de 2008 foi um divisor de águas na minha vida, pois foi o ano em que a educação financeira entrou de roldão na minha família, com planilhas e planejamento financeiro doméstico diário/mensal. Estava com 50 anos....
Não culpo meus pais pela educação financeira que não conseguiram me passar. Mas eles, com todas as dificuldades, me deram o estudo (para mim e meus irmãos), mesmo sendo pessoas humildes que viviam da produção de uma pequena propriedade rural.
Minhas filhas já tem mais sorte e tento repassar a elas dia-a-dia um pouco do que leio, do pouco que escrevo, sobre a educação financeira. No momento estou plantando e digo sempre, que, se elas não fizerem bobagem, quando chegarem na minha idade atual, estarão com a independência financeira encaminhada ou até concretizada.
Penso que é a tendência. Ainda temos um longo caminho a percorrer, pois a educação financeira precisa entrar nas salas de aula. E isto está sendo discutido nas esferas do legislativo federal e isso já é um grando passo na educação brasileira.
Baita abraço
Valdemar Engroff