“Estão acusando ele de ter se apoderado de umas jóias da sua ex-namorada. Mas o rapaz é boa pessoa, estudioso e trabalhador, cabeça feita, filho do Firmino, companheiro de diretoria do clube, lá na cidade”, objetivamente disse, ao telefone, um deputado ao ligar a notório advogado criminalista, para informar que tinha indicado os serviços do profissional da Advocacia ao réu.
- O rapaz é uma joia de pessoa? - arriscou o advogado, numa espécie de trocadilho.
- Super joia de 18 quilates! - garantiu o parlamentar.
No primeiro contato entre advogado e réu, este negou enfaticamente os fatos e garantiu que não possuía antecedentes criminais. Pelo relato que fez do seu relacionamento amoroso e considerando o seu histórico pessoal e familiar, o advogado não duvidou da inocência do cliente.
“Vai ver, deu fim ao namoro e agora a família resolveu armar uma contra ele como vingança”, pensou, antes de dizer que aceitava a causa. Jovem, esforçado, ficha limpa, família de respeito: tudo indicava que era a frustração dos planos de casamento, e não uma corrente e dois anéis de ouro, que poderiam custar a sua liberdade.
O advogado empenhou-se na defesa com ânimo, sabedor das injustiças da vida.
A denúncia foi julgada improcedente, ao fundamento de que havia dúvida razoável acerca da autoria do crime. A aplicação do princípio do “in dubio pro reo” significou a absolvição do acusado.
Confirmada a sentença em segundo grau, e tendo ela transitado em julgado, o advogado pediu ao cliente para que fosse ao seu escritório, pois gostaria de lhe explicar os efeitos da decisão. Também tinham que acertar os honorários faltantes.
Uns dias depois, ele veio. O advogado lhe detalhou o julgamento no TJ e disse que a decisão era definitiva, que isso ninguém mudaria. O cliente pagou os honorários com satisfação. Na porta, os dois se abraçaram com afeto e o profissional da Advocacia lhe desejou felicidade e serenidade, depois de meses de ansiedade e constrangimento.
Antes, porém, que o jovem fizesse qualquer voto, perguntou se o advogado podia explicar novamente o que significava o tal de “trânsito em julgado”.
- Está tudo acabado, então, doutor?
- Sim, caso encerrado. Foste absolvido – respondeu o advogado.
- Mas posso responder a um novo processo, ou esse pode ser reaberto? – insistiu ele.
- Sim, mas não com base na mesma acusação desse. Fica tranqüilo, rapaz, por causa das joias eles não vão te incomodar novamente.
O jovem pareceu entender, mas sua expressão era de quem ainda possuía algo a dizer ou a perguntar.
- Tudo entendido, meu jovem? Sei que é sempre angustiante ser réu, mas acho que está claro que a tua absolvição está sacramentada, não é?
Ao que ele respondeu timidamente, mas com uma sinceridade que deixou o experiente advogado estupefato.
- Sim, doutor, isso eu entendi. Ocorre que o senhor ainda não me disse se eu já posso vender as peças numa boa, sem problema algum...
Fonte! Chasque publicado por Marco A. Birnfeld, em sua coluna Espaço Vital, na edição do dia 12 de julho de 2011, do Jornal do Comércio, de Porto Alegre - RS.
Muito boa!
ResponderExcluirhttp://encontrodeinvestidoras.blogspot.com/
Hehehehehehe
ResponderExcluirMuito competente o doutor causídico.....