Investidor que perdeu R$ 500 mil no esquema financeiro ganhou na primeira instância da Justiça direito a indenização e a receber seu dinheiro
Um engenheiro gaúcho que perdeu R$ 500 mil no escândalo bilionário da pirâmide financeira montada por um figurão de Wall Street está mais perto de ter seu dinheiro de volta. A Justiça estadual condenou o Itaú Unibanco a devolver ao cliente todo o valor aplicado nos Estados Unidos em fundos geridos por Bernard Madoff, além de pagar R$ 30 mil por danos morais.
O esquema, que ruiu no cambaleante mercado financeiro no final de 2008, é considerado uma das maiores fraudes da história. Ao todo, foram mais de 3 milhões de investidores prejudicados ao redor do mundo, em um golpe que chega a impressionante cifra de US$ 63 bilhões. Sete meses depois, o megainvestidor americano foi condenado a 150 anos de prisão por 11 crimes, entre os quais fraude, lavagem de dinheiro e perjúrio.
Bernie, como era conhecido entre os amigos, aproveitou-se de sua reputação para construir um esquema ilícito que mistura negócios e laços sociais. As pessoas se sentiam orgulhosas por estarem na lista de clientes do corretor.
Não à toa, enquanto o mundo estava em meio a uma das piores crises financeiras, o fundo de investimento gerido por Madoff rendia de 10% a 12% ao ano. O segredo do sucesso consistia em remunerar os clientes mais antigos com o dinheiro dos novos investidores, sem produzir rendimentos reais – clássico esquema de pirâmide.
No entendimento da Justiça, o banco deve ressarcir as perdas porque estimulou o investidor a aplicar os recursos em tais fundos, garantindo que tinham rígido controle de riscos e maior rentabilidade. Em um dos e-mails trocados na época, funcionários da instituição qualificam Madoff como "papa" dos investimentos.
– Não se trata de um grande investidor. Pelo contrário, era a poupança de alguém que trabalhou a vida inteira e que não conhecia o mercado financeiro. Confiava na qualificação dos funcionários do banco, que deveriam ter percebido que o rendimento era muito alto para um investimento sem risco – afirma Fernando Hackmann Rodrigues, advogado do engenheiro.
Engenheiro buscava mais segurança
Foi justamente a vontade de não correr riscos que levou o investidor gaúcho a ser vítima de uma das maiores fraudes financeiras da história. Com medo da instabilidade econômica brasileira, aceitou a recomendação de funcionários de seu banco para mandar parte dos investimentos ao Exterior.
Quando viu na televisão a denúncia de pirâmide financeira nos EUA, nem imaginou que estaria na lista de lesados. A surpresa foi grande quando, um dia depois, recebeu a ligação de um funcionário do banco afirmando que o investimento dificilmente seria recuperado. Abalado, demorou algumas semanas até criar coragem para contar à família.
– O que mais me incomoda é que perdi tudo mesmo fazendo tudo certo e estando em dia com a Receita Federal e com o Banco Central.
E nunca fui informado de que havia esse risco – conta o engenheiro.
Depois do ocorrido, garante que investir no Exterior "nunca mais".
Contraponto
O que diz o Itaú Unibanco
O banco afirma que não comenta processos que ainda não transitaram em julgado, mas vai recorrer da decisão da Justiça.
O esquema que ruiu
Pirâmides financeiras como as de Madoff não são novidade. Chamadas de esquema Ponzi, em alusão ao italiano Carlo Ponzi, que ganhou fortunas prometendo dinheiro rápido a pequenos empresários entre 1918 e 1920, já causaram prejuízos ao redor do mundo.
Nos EUA, a empresa de Madoff prometia rendimentos de 10% a 12% ao ano.
Em vez de investir as aplicações, Madoff usava o dinheiro dos novos investidores para pagar os rendimentos dos mais antigos. Enquanto houvesse gente entrando, o esquema funcionava. Nem mesmo a crise havia lhe atingido: seus investimentos cresceram 5,6% até novembro de 2008, enquanto o valor das empresas nas quais supostamente investia tinha encolhido 37,7%.
Com a intensificação da crise financeira, o número de saques aumentou e Madoff ficou sem dinheiro para cobri-los. A fraude causou prejuízo de US$ 63 bilhões.
De Porto Alegre a Manhattan
Como o investidor gaúcho se tornou vítima de um golpe a 8,2 mil quilômetros de distância
Em 2008, o aplicador abre uma conta no banco Itaú em Miami, por meio de uma agência aqui no Brasil.
Com orientações de especialistas do banco, fez aplicações nos fundos de Madoff, sob a garantia de que seriam os melhores do mercado, com rígido controle de riscos e com maior rentabilidade.
A notícia de que o fundo se tratava de uma pirâmide chega aos jornais.
O investidor gaúcho, que perdeu cerca de R$ 500 mil com a fraude, procura a Justiça alegando que o banco deveria ressarcir o prejuízo.
No final de maio deste ano, a Justiça condena – em primeira instância – o banco Itaú a devolver ao investidor todo o valor aplicado em fundos geridos por Madoff e pagar indenização de R$ 30 mil por danos morais.
O glamour de Bernie
Tal como o rei Midas, na mitologia grega, tudo que Bernard Madoff tocava se transformava em riqueza. Enquanto empresas sofriam com o colapso do sistema imobiliário, o naufrágio da indústria automobilística e o mergulho na recessão nos EUA, seu fundo crescia de forma constante e sólida.
Aplicar no fundo de Bernie, como era chamado pelos amigos, era um sinal de prestígio. A credibilidade do corretor, que já havia sido presidente da Nasdaq, a bolsa das empresas de tecnologia, foi o suficiente para atrair milhares de clientes em busca de ganhos altos em tempos de crise.
Na delegacia de polícia, para onde foi levado logo após a descoberta do golpe, Madoff admitiu ter montado um gigantesco esquema tipo pirâmide.
O que torna o golpe único é o calibre dos investidores enganados. Bancos globais enterraram mais de US$ 30 bilhões num esquema que deveria ter despertado suspeitas.
Como se precaver
Investigue antes de investirA informação é a primeira linha de defesa contra golpes financeiros. A formação do investidor é uma atividade permanente. Procure conhecer o mercado antes de investir, não apenas quando decide investir.
Desconfie de promessas de retornos altos com baixo riscoRentabilidade e risco costumam andar de mãos dadas. Se é bom demais para ser verdade, provavelmente não o é.
Baseie sua decisão em questões objetivasGolpistas são normalmente pessoas simpáticas e que estão habituadas a mentir, por isso, tenha um espírito crítico.
Não tenha receio de fazer perguntasGolpistas costumam questionar sua inteligência para compreender a proposta de investimento, na esperança de que você se cale.
Tenha certeza de que entendeu os riscosAs características do investimento devem estar claras antes de aplicar.
Decida com calmaDesconfie de oportunidades apresentadas como imperdíveis que exigem, por qualquer motivo, uma decisão imediata. Se você não consegue explicar as principais características do investimento escolhido, é porque não o entendeu.
Fonte! Página eletrônica do jornal Zero Hora, publicado no dia 06 de junho. Chasque de Cadu Caldas. Abra as porteiras: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2013/06/gaucho-tenta-reaver-meio-milhao-perdido-com-madoff-4162557.html